A manutenção de esportes como surfe, skate e escalada nas Olimpíada de Paris (França) e Los Angeles (Estados Unidos) evidencia a tentativa do Comitê Olímpico Internacional (COI) de atrair um público mais jovem aos Jogos. Não é diferente em modalidades consolidadas no programa olímpico. É o caso da vela, que terá duas novas classes na edição de 2024, na capital francesa: iQFoil e Fórmula Kite.
“É a evolução natural do mundo. O jovem de hoje quer agilidade, cor, emoção. Há uma tendência na vela de termos eventos com maior atratividade e menor duração, mais emoção. A [iQ]Foil, por exemplo, é basicamente uma prancha à vela, que parece voar. Quem vê de longe, pensa que ela está voando a centímetros da água. Elas vieram para ficar e acho que é uma tendência que será acentuada”, disse o catarinense Ricardo Navarro, delegado técnico da modalidade nos Jogos de Paris, à Agência Brasil.
Segundo o dirigente brasileiro, de 62 anos, a forma de disputa das novas classes tende a ser diferente do tradicional da vela, onde o barco com melhor desempenho após uma série de regatas sai vencedor. O modelo, de acordo com ele, deve se assemelhar à SSL Gold Cup, considerada a Copa do Mundo da modalidade, onde as provas terão flotilhas com quatro embarcações, buscando classificação à etapa seguinte.
“O formato Será mais dinâmico, com eliminatórias, bem interessante. Na prancha, principalmente, teremos várias baterias , o surfe tem isso, até que tenhamos uma regata final. Não será aquela modalidade em que todos competem durante sete, oito dias. A final, não chegará a ser um contra um, pois acaba tirando o brilho do esporte, ficaria monótono. O atleta terá que estar muito ligado para não ser eliminado em estágios iniciais. Esse processo iniciará em Paris. Em 2028, estou seguro, apesar de ainda não estar definido, que isso será a tônica, com certeza, regatas mais curtas e percursos menores”, disse o delegado.
Os novos eventos, com disputas masculina e feminina, ocupam os lugares das classes RS:X (presente nos Jogos de 2008 a 2020) e Finn (que era disputada desde 1952, somente entre homens). Nos Jogos de Paris, as provas da vela serão na Marina Roucas-Blanc, em Marselha, cidade francesa a mais de 770 quilômetros da capital e acostumada a ser sede de competições internacionais da modalidade.
Brasil no comando
Tanto na iQFoil como na Fórmula Kite o Brasil tem atletas bem colocados no ranking da World Sailing, federação internacional da vela. A primeira tem Mateus Isaac na terceira posição entre os homens e Giovanna Prada , prata nos Jogos Pan-Americanos Júnior de Cali (Colômbia), no ano passado, em quarto no feminino. Na kite, o melhor brasileiro é Bruno Lobo, ouro nos Jogos Pan-Americanos de Lima (Peru), em 2019, que aparece em 21º lugar.
“O Brasil é um país com peso na vela. A indicação é também um reconhecimento ao que o Brasil fez na Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016 e uma mensagem de oportunidade a novas pessoas, sendo alguém da América do Sul. A função delegado técnico sempre foi exercida pelo presidente da World Sailing ou por um vice, que normalmente vêm de centros maiores, como Europa ou América do Norte”, explicou o brasileiro, que já iniciou o trabalho a caminho da quarta Olimpíada, ele foi árbitro em duas ocasiões (uma como auxiliar, outra como principal) e atuou na organização da Rio 2016.
“A pandemia da Covid-19 adiou os Jogos de Tóquio no Japão e criou um problema para Paris. Normalmente, o ciclo olímpico é de quatro anos. O primeiro é de instalação do comitê organizador. A partir do segundo ano é que o trabalho para cada esporte começa. Paris perdeu esse primeiro ano, então somente no começo de 2022 é que os delegados técnicos começaram a ser definidos. No dia em que fui apontado já me chamaram para reuniões”, concluiu Navarro.
Além de iQFoil e da Fórmula Kite, a vela na Olimpíada de 2024 terá as já tradicionais classes Laser (masculino), Laser Radial (feminino), 49er (masculino), 49erFX (feminino) e Nacra 17 (misto). A 470 também está mantida, mas passa a ser disputada em dupla mista, ao invés de dividida por gênero.
(Agência Brasil)