O governo da Espanha chamou para consultas sua embaixadora em Buenos Aires, María Jesús Alonso Jiménez, e exigiu “desculpas públicas” de Javier Milei, após o presidente argentino chamar a esposa do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, de “corrupta“.
O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, afirmou que, caso Milei não peça desculpas a Begoña Gómez, a Espanha tomará todas as medidas necessárias para proteger sua “soberania e dignidade“.
As declarações do presidente argentino ocorreram durante um evento do partido de extrema-direita espanhol Vox neste domingo (19). A viagem foi questionada na Argentina por não incluir encontros oficiais com autoridades espanholas.
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Em meio a uma investigação por suposto tráfico de influências e corrupção, Milei criticou as elites globais e o socialismo, afirmando que podem gerar abusos de poder. A declaração refere-se à decisão de Sánchez de suspender sua agenda pública por alguns dias para considerar se continuaria no cargo de primeiro-ministro; o anúncio foi feito no final de abril, após a abertura de uma investigação contra sua esposa, que é suspeita de favorecer empresários e um parente em licitações.
“As elites globais não percebem quão destrutivo pode chegar a ser implementar as ideias do socialismo, porque isso está muito distante, não sabem que tipo de sociedade e país podem produzir e que tipo de gente parafusada ao poder e que níveis de abuso pode chegar a gerar. Mesmo quando a mulher for corrupta, se sujar e tirar cinco dias para pensar”, disse Milei.
Segundo o ministro espanhol, a maioria dos porta-vozes parlamentares do seu país apoiaram a sua resposta a Milei e que, inclusive, o alto representante da União Europeia, Josep Borrell, considera “um ataque deste calibre a um Estado-membro” como “um ataque ao conjunto da União Europeia”.
Albares afirmou que “as gravíssimas declarações (…) ultrapassam qualquer tipo de diferença política e ideológica” e não têm precedentes na história das relações internacionais nem na relação entre os dois países.
Political freedom, prosperity, social cohesion based on fiscal redistribution, respect in public debate are pillars of the EU.
Attacks against family members of political leaders have no place in our culture: we condemn and reject them, especially when coming from partners. https://t.co/xLk19J8GSe
— Josep Borrell Fontelles (@JosepBorrellF) May 19, 2024
Relação entre Espanha e Argentina já estava tensa
Antes mesmo da viagem de Milei à Espanha, a relação entre os países já estava tensa. No começo deste mês, o ministro dos Transportes espanhol, Oscar Puente, sugeriu que Milei ingeriu “substâncias” durante a campanha eleitoral no ano passado.
A Casa Rosada, sede do governo argentino, condenou as declarações e criticou o governo de Sánchez, mencionando que ele deveria se preocupar com as alegações de corrupção contra sua esposa e acusando-o de “colocar em risco as mulheres espanholas ao permitir a imigração ilegal”, prejudicar a integridade do país ao fazer acordos com separatistas e gerar “morte e pobreza” com políticas de esquerda.
O Ministério das Relações Exteriores da Espanha respondeu, afirmando que os termos usados na declaração argentina “não correspondem às relações entre os dois países e povos irmãos”.