O mundo do cinema enfrentou recentemente uma onda de polêmicas com a estreia planejada, e posteriormente cancelada, de um filme com o roteiro inteiramente escrito por Inteligência Artificial (IA) em Londres. O cancelamento do evento destaca não apenas as inovações tecnológicas que estão penetrando nas artes criativas, mas também suscita debates importantes sobre ética, autenticidade e a salvaguarda dos direitos dos criadores humanos.
No coração de Londres, o cinema Prince Charles, conhecido por sua proximidade com a comunidade artística e por exibir obras cult, havia sido escolhido para a estreia do filme “O Último Roteirista“. A reação do público, intensamente negativa ao descobrir que o roteiro foi criado pela IA ChatGPT 4.0, foi rápida e feroz, culminando na desistência do evento.
Qual o impacto da IA na escrita de roteiro?
O filme apresenta um paradoxo intrigante: um roteirista bem-sucedido enfrenta a crise de ser substituído por um sistema de IA que não apenas simula, mas parece superar suas capacidades de empatia e criação narrativa. A situação, embora fictícia, ecoa os receios reais dos profissionais da indústria cinematográfica face à crescente adoção da IA.
A polêmica em torno da estreia destacou um ponto crítico: enquanto algumas pessoas veem a tecnologia como uma ferramenta útil, outros temem que ela possa ultrapassar a criatividade humana, tornando os roteiristas obsoletos. O diretor, Peter Luisi, argumenta que o projeto foi mal interpretado e que merece uma chance de ser avaliado não apenas pelo uso de IA, mas pelo valor da história contada.
Qual a posição dos roteiristas com relação à tecnologia?
O uso de IA como ferramenta de escrita não é novo, mas sua aceitação no estágio final de produção de conteúdo ainda gera controvérsias. Até recentemente, profissionais de Hollywood estiveram em greve exigindo normas que determinem claramente o papel da IA na redação de roteiros.
A preocupação não é apenas uma disputa de créditos, mas também envolve direitos autorais e, fundamentalmente, a essência da arte narrativa. A controvérsia lembra a queixa recente da atriz Scarlett Johansson sobre o uso não autorizado de uma réplica de sua voz, exemplificando como a tecnologia pode invadir intimamente o espaço criativo pessoal. Nos Estados Unidos, o debate levou a um entendimento que permite que elementos gerados por IA sejam utilizados nos rascunhos iniciais, mas a versão final deve sempre ser creditada a um roteirista humano.
*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini
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