Para muitos venezuelanos que vivem no Brasil, votar nas eleições de seu país natal representa uma esperança de mudança. No entanto, a distância e as dificuldades financeiras tornam essa tarefa quase impossível. No Brasil, o único local onde poderiam votar seria na embaixada da Venezuela, em Brasília, mas a viagem é longe demais.
Em entrevista ao g1, David revelou que não vê a família há nove anos, desde que deixou a Venezuela no início do colapso socioeconômico no país. Atualmente trabalhando como ajudante de pedreiro e limpando quintais em Pacaraima, ele compartilha uma realidade comum a muitos migrantes venezuelanos.
David é natural do estado de Azoatangui, na Venezuela, onde deixou sua filha, mãe e pai. Com muita saudade, ele continua enviando dinheiro para sua família sobreviver. Porém, para votar no pleito venezuelano de 2024, David enfrenta uma série de dificuldades, pois não conseguiu renovar seu título de eleitor. Uma viagem até Las Claritas, necessária para a atualização, é inviável devido às condições financeiras.
Por que votar nas eleições na Venezuela é tão importante?
David, como muitos outros, vê a votação como uma chance de transformação. “Gostaria muito de votar, de escolher alguém para governar meu país, mas sem o título, e sem condições de renová-lo, essa oportunidade se perde”, lamenta. Acreditem na lisura do pleito ou não, participar das eleições é visto por muitos como um direito essencial.
Todavia, não é só a falta de documentos que impede os venezuelanos de votar. A desconfiança sobre a transparência e a eficácia do processo eleitoral também pesa nas decisões dos migrantes, como observa o professor venezuelano Yan Cartalla, de 49 anos.
Yan, que não acredita nas eleições sob o comando de Nicolás Maduro, chegou recentemente a Pacaraima. Ele também partilha a esperança de um futuro melhor tanto para os que ficaram na Venezuela quanto para sua nova vida no Brasil. “Se a situação mudar, gostaria de trazer minha família para viver comigo ou até voltar ao meu país”, pontuou.
Medo e insegurança dos migrantes Venezuelanos
A jovem Zulanny Maureira, de 26 anos, é outro exemplo. Ela chegou ao Brasil há apenas um mês, vivendo agora em Pacaraima com sua filha de 4 anos. Natural de Upata, Zulanny vende arepas nas ruas para se sustentar. Ela sente medo do que o futuro reserva na Venezuela, especialmente se a situação política e econômica não melhorar.
“Aqui me sinto mais segura. Tenho medo de ter alguma guerra na Venezuela. Dependendo do resultado das eleições, posso até pensar em voltar”, disse ela, ressaltando a complexidade da sua situação.
Neste contexto, até mesmo os brasileiros que vivem em Pacaraima sentem o impacto das eleições venezuelanas. Luiz Gomes Dias, pedreiro de 68 anos, tem medo de que o resultado possa desencadear novos conflitos. Ele já viu de perto os atritos entre brasileiros e venezuelanos.
Por outro lado, trabalhadores como o motorista Magnaldo Oliveira, de 56 anos, enfrentam desafios econômicos imediatos. A fronteira fechada, que deve reabrir apenas na segunda-feira, cortou drasticamente o movimento de pessoas e, por consequência, o rendimento financeiro.