As queimadas no interior do estado de São Paulo podem prejudicar ainda mais o resultado de lavouras de cana-de-açúcar, que já vinham sendo afetadas desde abril por uma seca na região. Além de queimar a cana que estava de pé e seria colhida, o fogo também destruiu as rebrotas que produziriam a próxima colheita.
Essas perdas vão aumentar os custos para o produtor, reduzir a produtividade e, consequentemente, podem influenciar os preços do açúcar e do etanol. De acordo com José Guilherme Nogueira, CEO da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), a expectativa é que a seca vá até setembro, comprometendo a queda de produção até então. “Queimar cana é queimar dinheiro”, disse em entrevista ao g1.
O que aconteceu?
No último final de semana, vários pontos de incêndio atingiram o interior de São Paulo. 48 municípios ficaram em estado de alerta máximo. Além disso, duas pessoas morreram, e mais de 800 tiveram que sair das suas casas. Até agora, seis suspeitos foram presos por atear fogo em áreas preservadas.
De acordo com o governador Tarcísio de Freitas, o prejuízo para a agricultura e a pecuária é de pelo menos R$1 bilhão. O fogo queimou a cana, plantações de outros produtos, e também carbonizou animais de criação.
Safra da cana-de-açúcar já sofria com a seca
Em abril, o setor estimava que SP iria colher 420 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Entretanto, a seca impediu que a projeção se concretizasse. Antes do fogo, a Orplana estimava uma safra de 370 milhões de toneladas.
Nogueira ainda adicionou que o produto não produziria uma alta quantidade de açúcar. Isso porque a seca deixa a planta da cana mais fina e rachada. “A cana acaba não ficando boa para a extração e, portanto, para a produção de açúcar e etanol”, explicou.
Impacto das queimadas
Agora, depois dos incêndios, a situação está ainda pior. A queima de 5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar corresponde a 1,5% da produção total do estado. Pode parecer um percentual pequeno, mas ele também comprometeu as rebrotas, que dariam origem às próximas cinco ou seis safras.
Portanto, alguns agricultores terão que replantar a cana-de-açúcar ou terão safras menores com o mesmo plantio, fato que deve aumentar os custos de produção. “Além disso, quando uma planta de cana é queimada, ela precisa ser colhida logo, pois depois de seis a sete dias começa a haver risco de aparecimento de fungos e bactérias que inviabilizam o uso da planta para a produção de açúcar e etanol, Imagina colher os 59 mil hectares que foram atingidos. Não tem máquina o suficiente para colher isso tudo”, pontua Nogueira.
Queimadas afetam o preço do açúcar e etanol
Na visão do especialista, a seca e os incêndios podem provocar um aumento de preço do etanol e do açúcar para o consumidor. “Quando você tem essa redução de produtividade, você tem menos oferta de matéria-prima para a indústria. E isso vai impactar preços”, afirmou.
Na segunda-feira (26), futuros contratos do açúcar bruto na bolsa de Nova York aumentaram seu preõ em 3,5%, por conta dos incêndios no Brasil, maior produtor de cana do mundo. “O incêndio foi o gatilho para alta de preços na bolsa de Nova York. Mas o mercado também está precificando a seca e a quebra que já estavam acontecendo. Não dá para colocar tudo na conta do incêndio. A questão é que o mercado ainda não estava precificando a seca”, alerta Nogueira.
Em seguida, nesta terça-feira (27), o açúcar permaneceu em alta na bolsa de SP. A cotação já subiu 1,67%. Quanto ao etanol, o impacto no bolso do consumidor deve chegar até nos próximos 20 dias.