Uma foto capturada em Jabália, no norte de Gaza, mostra mais de 200 pessoas, a maioria homens e alguns idosos, agachados entre escombros, seminus e visivelmente abalados. No grupo, que inclui ao menos uma criança, muitas pessoas estavam feridas. Segundo relatos obtidos pela CNN, os civis palestinos foram detidos por soldados israelenses enquanto tentavam deixar suas casas em meio à operação militar em curso.
Testemunhas afirmam que, após serem forçados a evacuar o campo de refugiados, os homens foram ordenados pelos militares a se despirem e permanecerem ao ar livre no frio por horas. “Estávamos todos reunidos em um lugar — homens, mulheres, crianças e idosos. Isso foi às 11 da manhã. Depois de cinco horas, às 4 da tarde, eles pediram às mulheres e crianças que avançassem e carregassem todas as (nossas) bolsas e pertences,” contou Muhannad Khalaf à CNN, uma das pessoas fotografadas. Segundo ele, depois que as mulheres e crianças deixaram o local, os homens foram obrigados a permanecer apenas de roupas íntimas, sofrendo com o clima e com xingamentos e risos dos soldados.
Situação de tensão crescente para palestinos em Gaza
Além de Khalaf, outro palestino identificado na foto é Mohamad Abu Ward, que estava com sua filha de três anos, Jouri Abu Ward, quando foi detido. Ele relatou ter ficado de cueca por oito horas ao lado da filha, sem acesso a comida ou água, enquanto aguardava autorização para seguir em direção à Cidade de Gaza, área considerada segura pelo exército israelense. Abu Ward disse à CNN que sua filha não foi obrigada a tirar as roupas, mas não conseguiu sair da área porque estava sozinha com ele.
Forças de Defesa de Israel (FDI) lançaram uma nova operação terrestre em Jabália nas últimas semanas, e diversos moradores foram obrigados a evacuar sob ordens militares. Panfletos jogados sobre a região ordenavam os palestinos a “evacuar imediatamente” em razão da operação. Nos últimos dias, organizações de direitos humanos, como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, criticaram o tratamento israelense aos detidos, afirmando que a prática viola as Convenções de Genebra e expõe civis a humilhações injustificadas. A ONU também declarou que “nudez forçada, com o objetivo de degradar e humilhar vítimas” é utilizada contra prisioneiros palestinos.
Procurado pela CNN, o exército israelense declarou que “indivíduos suspeitos de envolvimento em atividades terroristas estão sendo detidos e interrogados” e que os processos de segurança incluem revista de roupas “para garantir que não estejam escondendo coletes explosivos ou outras armas.” A nota oficial ressalta que, conforme o protocolo, as roupas são devolvidas assim que possível.
Em declarações, a Human Rights Watch e a Anistia Internacional alertaram que a nudez forçada de civis palestinos detidos pode configurar tortura e violência sexual. Em comunicado, Balkees Jarrah, diretora interina da Human Rights Watch para o Oriente Médio, afirmou que “autoridades israelenses têm feito vista grossa há meses enquanto membros de suas forças armadas publicam imagens e vídeos desumanizantes, totalmente ou seminus, de palestinos sob sua custódia.”
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