O Rei Felipe VI da Espanha foi alvo de protestos neste domingo (3), ao visitar Paiporta, nos arredores de Valência, região duramente atingida pelas enchentes que já causaram 217 mortes e deixaram dezenas de desaparecidos. A passagem do monarca pela localidade, uma das mais afetadas pelo desastre, ocorreu em meio a críticas da população contra a monarquia e o governo. Manifestantes gritaram “assassinos” e expressaram indignação com a gestão da crise.
As críticas ao governo se intensificaram devido à falha nos alertas sobre as chuvas. Avisos sobre a tempestade, que desencadeou a maior enchente do século na Espanha, só chegaram cerca de duas horas após o início das inundações. Moradores relatam que as notificações foram enviadas por volta das 20h, quando as ruas já estavam alagadas e carros eram arrastados pela correnteza. Além disso, a população reclamou da demora das autoridades em enviar ajuda.
Protestos e segurança reforçada marcam visita de Felipe VI a Valência
Com segurança reforçada, o rei caminhou pela cidade sob proteção de guarda-chuvas, usados pela equipe para protegê-lo de possíveis agressões, enquanto algumas pessoas atiravam objetos em sua direção. Apesar dos protestos, Felipe VI e a rainha Letizia conversaram com moradores e ouviram reclamações sobre a situação. Um dos manifestantes, filmado pela Reuters, acusou o governo de negligência, afirmando que “não foi feito nada para evitar” a tragédia.
A comitiva cancelou uma visita programada para a cidade de Chiva, também afetada pelas inundações. Os protestos e a gravidade da situação levaram ao ajuste na agenda do rei e das autoridades.
Danos e saques complicam a recuperação
As enchentes destruíram pontes, estradas e trilhos de trem, e devastaram plantações de frutas cítricas, uma importante fonte de exportação da região de Valência. O governo local, diante da destruição, pediu aos voluntários que parassem de chegar à região, devido à dificuldade de organizar a ajuda. Centenas de veículos arrastados pela água estão empilhados pelas ruas, criando um cenário descrito como “terra arrasada”.
A crise provocou ainda saques em supermercados e shoppings. A Polícia Nacional prendeu cinco pessoas acusadas de roubar uma joalheria em Aldaia, na região metropolitana. Diante da gravidade da situação, o governo enviou tropas do Exército para ajudar na limpeza e distribuição de alimentos no sul de Valência, a área mais atingida.
Enchente histórica e mobilização nacional
Considerada a pior enchente do século na Espanha, a tempestade despejou em poucas horas o volume de chuvas esperado para todo o ano. Segundo o ministro dos Transportes, Óscar Puente, mais de 80 km de rodovias no leste do país foram danificados ou bloqueados. As inundações provocaram um cenário de destruição, transformando vilarejos em rios de lama e deixando milhares de pessoas sem energia e água potável.
A costa mediterrânea da Espanha, onde está Valência, costuma sofrer com tempestades no outono, mas cientistas alertam que o aumento das temperaturas do Mediterrâneo, atribuído às mudanças climáticas, intensificou a gravidade do evento.
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