Após revelações sobre uma tentativa de intervenção política em 2022, a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro passou a utilizar a tese de um “golpe do golpe”. O argumento é que militares e membros das forças armadas teriam planejado um golpe não para manter Bolsonaro no poder, mas sim para substituí-lo. Generais como Augusto Heleno e Walter Braga Netto foram mencionados como possíveis beneficiários dessa manobra, e os militares não receberam bem o argumento.
De acordo com a Folha, a divulgação da linha de defesa gerou estranhamento e desconfiança. Os militares enxergam a tese como uma tentativa oportunista do ex-presidente se afastar das acusações de que conhecia os planos golpistas.
O argumento se baseia principalmente num documento preparado pelo general da reserva Mario Fernandes, identificado como um dos principais engenheiros dessa possível trama. O que o documento descreve é a formação de um Gabinete Institucional de Gestão de Crise, que seria encabeçado pelos militares logo após o suposto golpe de Estado.
O arquivo sugere que o general Augusto Heleno ocuparia a chefia do gabinete, com Braga Netto como coordenador-geral. A estrutura incluiria também outros militares de relevo, como o general Mario Fernandes e o coronel Elcio Franco, atuando como assessores estratégicos. Essas funções indicariam uma rede de controle e decisão baseada em figuras militares de alto escalão, refletindo a seriedade da organização necessária para implementar o plano conforme descrito.
Qual seria o papel de Bolsonaro na trama?
A defesa de Bolsonaro insiste que ele não seria beneficiado pela execução do plano golpista, baseando-se no relato do advogado Paulo Amador da Cunha Bueno. Em declarações, Bueno destacou que o plano descrito por Fernandes não previa um lugar para Bolsonaro em um eventual governo ‘pós-golpe’. Segundo ele, o plano arquitetado estava centrado em uma junta militar que não incluía o ex-presidente, uma linha de argumentação que busca dissociar Bolsonaro de responsabilidades diretas por quaisquer planos violentos ou subversivos elaborados contra o governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva.
“Quem seria o grande beneficiado? Segundo o plano do general Mario Fernandes, seria uma junta que seria criada após a ação do ‘Plano Punhal Verde e Amarelo’ e, nessa junta, não estava incluído o presidente Bolsonaro. Não tem o nome dele lá, ele não seria beneficiado disso. Não é uma elucubração da minha parte. Isso está textualizado ali. Quem iria assumir o governo em dando certo esse plano terrível, que nem na Venezuela chegaria a acontecer, não seria o Bolsonaro, seria aquele grupo”, disse o advogado em entrevista à GloboNews.
Repercussões entre os militares
Esta linha de defesa não foi recebida de maneira uniforme entre os militares. A reação de figuras como Braga Netto foi firme, chamando a tese de “fantasiosa” e “absurda”. Em nota, escreveu: “[O general] lembra, ainda, que durante o governo passado, foi um dos poucos, entre civis e militares, que manteve a lealdade ao presidente Bolsonaro até o final do governo, em dezembro de 2022, e a mantém até os dias atuais, por crença nos mesmos valores e princípios inegociáveis”.
Nunca se tratou de golpe, e muito menos de plano de assassinar alguém.
Agora parte da imprensa surge com essa tese fantasiosa e absurda de “golpe dentro do golpe”.
Haja criatividade… pic.twitter.com/PdZalNu5ew— Braga Netto (@BragaNetto_gen) November 23, 2024
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