Um imigrante que desembarcou no Brasil em 1939 e imprimiu a assinatura em uma importante obra estrutural no país – o Rodoanel. Esta é a história contada no livro ‘Apesar Disso, Rolou’, autobiografia de Michael Paul Zeitlin. Publicação da Editora Adonis, o livro, segundo o autor, nasceu do ‘desejo de pertencer’, e já está disponível.
Zeitlin é o engenheiro responsável pela construção e implementação do anel rodoviário que conecta São Paulo a Embu das Artes. Em uma entrevista exclusiva à Perfil Brasil, contou que era uma ideia muito antiga do governo, mas, nas suas palavras, “faltou determinação”. Foi quando Mário Covas ganhou a eleição de governador de São Paulo que o estado começou a estudar essa possibilidade.
Primórdios do Rodoanel
Michael foi convidado em 1997 para ser Secretário de Transportes e cumprir uma das metas do governo à época: a construção do Rodoanel. “Foi escolhido o trecho Oeste, pois com extensão de 37 km recebia 5 importantes rodovias de penetração que chegavam a São Paulo: Anhanguera, Bandeirantes, Castelo Branco, Raposo Tavares e Regis Bittencourt”, explica.
Como em qualquer outra obra, a construção do Rodoanel passou por imprevistos. Um deles foi a lei de licitações, que limita eventuais compras extras em 25% do valor original da obra. A equipe precisava de mais orçamento para comprar terra de boa qualidade e executar aterros. A solução? Entrar em território inimigo (ou quase isso).
“Fui procurar o professor A.C. Bandeira de Mello, principal advogado do PT que nos fazia oposição. Eu o conhecia da EAESP/FGV, pois os professores de Direito ocupavam o mesmo andar que os professores de Métodos
Quantitativos. Expliquei nosso problema e o professor me deu uma aula sobre a diferença entre poder-fazer e dever-fazer. “O senhor não só pode fazer como tem obrigação de fazê-lo.” Perguntei-lhe se poderia contratá-lo para dar um parecer – concordou, mas fez um alerta, seu parecer só terá valor igual à qualidade dos dados quantitativos que eu forneceria. Decidimos contratá-lo. A notícia se espalhou e o governador me perguntou: “Você está querendo ser preso?” Não, Mario, não estou querendo ser preso, só quero levar a obra até o final. Foi o que fizemos“, conta.
Melhora do trânsito
O engenheiro avalia que a obra trouxe uma redução significativa no tráfego de caminhões de carga, além de uma queda no número de acidentes fatais. Ainda assim, comenta outras estratégias que poderiam ser adotadas para desafogar o congestionamento em São Paulo: mais meios de transporte. “O Plano Estratégico que foi implantado por nós na Secretaria de Transportes tinha como objetivos aumentar a porcentagem de transporte de carga por ferrovia (especialmente produtos agrícolas que se dirigiam ao porto de Santos para serem exportadas); aumentar também a porcentagem de transporte por hidrovia, especialmente produtos a granel e de baixo valor agregado, por exemplo areia”.
As sugestões são, no mínimo, válidas. De acordo com a Pesquisa Mobilidade Urbana 2022, da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em parceria com o Sebrae, os brasileiros que moram em capitais passam duas horas do seu dia em trânsito. A ida ao trabalho, à escola, à faculdade ou onde quer que seja, consome o equivalente a 21 dias por ano.
Quem é Michael Paul Zeitlin?
Michael Paul Zeitlin nasceu em Berlim, Alemanha, em fevereiro de 1937. De origem judaica, imigrou ao Brasil junto com a família ainda na infância. Por aqui, completou a graduação em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da USP. Também é pós-graduado na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (Eaesp/FGV), onde foi professor. “Minha mãe insistia muito que estudar seria importante, ninguém pode tirar de você o que você aprender. Eu gostava de estudar e ter desempenho bem avaliado resultava em ser melhor acolhido pelos colegas”, relembra.
Na década de 1990, foi eleito diretor da escola pela Congregação da Eaesp-FGV e, mais tarde, convidado pelo governador Mário Covas para exercer o cargo de secretário de Estado dos Transporte. No serviço público, foi responsável pela implantação do trecho Oeste do Rodoanel Metropolitano de São Paulo, o Programa de Concessões Rodoviárias e criado o Programa Rodovia Viva. Deixou o cargo em 2002 após a morte do governador. É casado com Neuza Zanaga Zeitlin, e ambos residem em Americana/SP.
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