IMPACTOS NO AGRO

Mantenham a atenção redobrada ao tema Trump e taxação

* Por Andrea Cordeiro

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Donald Trump – Créditos: depositphotos.com / gints.ivuskans

Após o anúncio de taxação ao México, Canadá e China, a comunidade europeia ligou o alerta máximo para o tema pela grande probabilidade de que Donald Trump anuncie tarifas para o bloco. Vale destacar que Estados Unidos e União Europeia mantêm um ecossistema comercial com alto fluxo de negócios, gerando bilhões de dólares em mercadorias circulantes, porém, com Estados Unidos do lado deficitário das transações.

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Há poucos dias, os Estados Unidos anunciaram taxação de 10 % aos produtos chineses e de 25% aos de origem canadense e mexicano, embora exista um acordo de livre comércio entre os 3 países. México, imediatamente, sinalizou espaço para negociar. Na sequência, o Canadá, após ter dito que denunciaria o país na OMC, também acenou neste sentido. Com isso, Trump anunciou o adiamento de 30 dias das tarifas. México e Canadá garantiram espaço na mesa para debaterem questões de imigração ilegal, drogas e armamento e maior fluxo de negócios.

Trump e as negociações

Já com China as negociações parecem estar distantes, uma vez que o país asiático anunciou retaliação a partir de 10 de fevereiro com taxação de 15% sobre as transações com carvão e gás natural, e 10% para as de equipamentos agrícolas, petróleo e veículos automotores.

Imaginando a previsibilidade de Trump – sim Trump é previsível, apenas intempestivo, o anúncio para taxações ao bloco europeu está sendo estudado e deve ser feito em breve, o que desencadearia um novo passo da escalada de uma guerra comercial mundial. Simultaneamente, os Estados Unidos estariam disputando maior comércio através de taxação com múltiplos e importantes países.

Tornar os comércios globais com os Estados Unidos mais equilibrados é um dos grandes pilares da campanha de Trump juntamente com os pilares de segurança, segurança nacional, proteção à propriedade intelectual, pauta ESG, janela de paz mundial, e ele pretende equilibrar as contas através de taxações.

Em uma guerra comercial não há ganhadores entre as partes envolvidas, nem no curto, médio ou longo. Neste processo há um imediato desencaixe no quadro de oferta e demanda e que despende tempo para que o mercado se acomode ou reequilibre e isso cobrará preços altos.

Entenda como esta nova fase pode impactar de forma macro mundialmente e como isso pode impactar o Brasil:

1. Nessa fase abre-se espaço para diálogos diplomáticos – os países irão para as mesas de negócios debater as relações.

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2.Formação de novos blocos – As taxações podem incentivar novos acordos a fim de minimizar os impactos e prejuízos.

3.Inflação Global e Aumento de Custos de Produção – A introdução de tarifas sobre produtos importados tem um efeito direto sobre os preços de bens e serviços. Com as taxações, os produtos mexicanos, canadenses e chineses ficarão mais caros para os consumidores norte-americanos e a elevação de preços nos Estados Unidos tende a resultar em inflação.

4.Desconexão global da cadeia de suprimentos – As tarifas também podem causar um “desencaixe logístico” nas cadeias de suprimentos globais. Com a imposição de novas taxas, os países afetados tendem a buscar alternativas em novos mercados para exportar seus produtos ou fontes de insumos mais baratas, porém mudar fornecedores ou mercados demanda tempo e adaptações nas infraestruturas logísticas.

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E como esta situação afeta o Brasil?

Com o impacto das tarifas dos Estados Unidos, o Brasil pode viver uma situação de benefícios e desafios. No curto prazo, é possível notar aumento nas exportações de algumas commodities agrícolas e até a possibilidade do país se consolidar como produtor de soja uma vez que fertilizantes do Canadá chegariam aos Estados Unidos mais caros favorecendo o recuo de área de plantio para a temporada 2025. Por outro lado, as taxações também ocasionariam um aumento nos custos de produção de outros bens, as quais podem resultar em inflação interna.

Resumidamente, o agronegócio brasileiro pode ver um crescimento das exportações de soja, milho e proteínas animais, mas também precisará gerenciar questões logísticas, como a demanda por transporte e o aumento nos custos de insumos.

Em paralelo e em uma velocidade a depender da vigência dos conflitos comerciais, o Brasil pode se beneficiar do reposicionamento do comércio internacional buscando novos parceiros dentre os países afetados pelas tarifas dos EUA.

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E o Brasil: está no radar dos Estados Unidos?

Novamente assumindo a previsibilidade de Trump, o Brasil está no radar das taxações e em especial por fazer parte do BRICS bloco de países que defende a criação de uma moeda como alternativa ao dólar. O monitoramento de Trump ao Brasil, haja vista o protagonismo do Brasil ao presidir o bloco, se potencializa pelas diferenças políticas entre os países. No caso de uma escalada da guerra comercial com China e México quais produtos o Brasil seriam beneficiados?

Em imediato, haveria um aumento de competitividade na soja, proteínas animais e milho que seriam exportados para China e milho para México. Em paralelo, produtos que México e Canadá exportam aos Estados Unidos e que o Brasil podem ganhar espaço. Já na hipótese de os Estados Unidos mirarem no Brasil, quais seriam os produtos alvo de taxação?

Proteína animal e citrus – aqui o impacto de uma taxação pode ser mais brando ou até não aplicado tendo em vista que os Estados Unidos registram baixos estoques bovinos e problemas com as produções de citrus. Já com maior probabilidade de taxação estão o minério de ferro, café celulose, açúcar e etanol de cana. O Brasil pode ser prejudicado também na ponta importadora com produtos farmacêuticos e químicos, automóveis e peças automobilísticas, computadores e eletrônicos e maquinários e equipamentos industriais.

 * Andrea Cordeiro é consultora em comercialização de commodities agrícolas, Palestrante, Conselheira, Curadora de Conteúdo para eventos agro e Membro da Câmara Arbitral BBM – Bolsa Brasileira de Mercadorias.

 ** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião de Perfil Brasil.

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