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Aos motoboys: Obrigada!

Published 20/04/2021

(Crédito: Reprodução/Câmara Municipal de SP)

Queridos Motoboys:

Confesso, já xinguei vocês. Dos piores nomes. Sempre que estava eu, lá, no hard level trânsito de São Paulo, você passava, naquela malemolência quase afrontosa, diante do mar de veículos parados na minha frente, sem o menor sinal de que pudesse se mover na próxima meia hora. Você ia. Ia que ia, todo espremido, passando por onde ninguém imaginaria passar. Despertava ódio em mim e em muitos motoristas, tenho certeza.

E, pior: ainda dava uma balançada debochada de capacete (de repreensão) quando eu, motorista inexperiente com o trânsito de uma metrópole, cometia o PECADO de, na divisa entre uma faixa e outra, ficar atravessada. Cena comum numa Faria Lima da vida… #QuemNunca?

Quantos retrovisores esbagaçados… Quantas ofensas, dedos em riste, baixarias…Quanto gasto numa oficina, quanto rancor… 

Para minha mente limitada, a culpa era sempre sua: “mas, Meu Deeeeeus! Pela hóstia consagraaada! Esse satanás sem rabo não pode esperar um segundo para que eu abunde minha lateral carrística na faixa certa?”. Hoje, entendo: Não podia esperar. Sua missão era nobre. Entregar algo a alguém. 

Foi graças a você, motoboy, que minha vida andou em muitos momentos. E, só hoje, consigo enxergar.

Desde que começou a pandemia de coronavírus, passei a reparar na sua coragem e disposição de encarar um universo de exposição, quando todos estão trancados em casa. Você é pai, marido, filho… Tem tantas preocupações quanto todos nós: a principal é sobreviver.  E está colocando seu dever de ‘entregar’ acima da sua sobrevivência.

Graças a você, não precisamos ir ao supermercado estocar papel higiênico, comida, itens essenciais e provocar uma confusão generalizada nas prateleiras. Graças a você, a economia não entrou em colapso. 

Sei que, quando todos estão em casa, você está em ambiente externo, exposto, indo de um lugar para o outro, em contato com pacotes, mãos, maquininhas, tudo aquilo que a gente tem evitado para não se contaminar e entrar pra estatística sombria que já soma mais de 371 mil mortes.

Imagino que as condições nem sempre são as corretas. Imagino que você, esperando meu pedido, fique aglomerado com outros entregadores. Imagino que a remuneração não seja proporcional ao risco que você corre. 

Tenho a ousadia de imaginar, ainda que, no fim do dia, chega você em casa e tem uma esposa esperando… Filhos, um pai, uma mãe, um bebê… E toma todas as medidas de precaução para manter vivo quem você ama.

Por isso, meu agradecimento. E um apelo: como, graças a vocês, muitos puderam ficar em casa, nada mais justo do que colocar esta categoria como linha de frente no combate à covid. Que sejam logo vacinados. 

Que fiquem protegidos, pelo menos, da pandemia, já que na correria diária ‘vida loka’ de ser, nas ruas, sobre duas rodas, nem sempre é possível. Falta reconhecimento à importância de cada um, como sempre faltou. 

Faltam: remuneração, garantia de segurança, de dignidade na luta pelo pão de cada dia. Falta reconhecimento de que, sem vocês, a máxima #Fiqueemcasa não duraria uma semana. 

Mais uma vez, OBRIGADA.  

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Perfil Brasil.

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