Um avião ultrapassou a pista do aeroporto de Ubatuba e explodiu na praia na tarde desta quinta-feira (9). A aeronave, que tinha pista suficiente para pousar com segurança, não utilizou toda a extensão disponível. Marcel Moure, CEO da Rede VOA, concessionária responsável pelo aeroporto, afirmou ao g1 que o ponto de toque do avião foi bem além do esperado, comprometendo a operação.
O acidente resultou na morte do piloto, que foi resgatado com vida, mas não resistiu após tentativas de reanimação. Uma família — composta por um casal e dois filhos, de 6 e 4 anos — foi retirada com vida. O pai e as crianças permanecem estáveis, mas a mãe, de 41 anos, estava em estado grave na manhã desta sexta-feira (10).
“Fomos surpreendidos. Aparentemente, pelas câmeras do nosso aeroporto, o ponto de toque da aeronave foi bem à frente daquela zebra [o ponto inicial]. Os [cerca de] 600 metros necessários [já] eram críticos para essa operação, disso não tenho dúvida. Muito crítico, e ficou menor ainda”, declarou Moure ao g1.
A pista do aeroporto era suficiente?
O aeroporto de Ubatuba, situado entre o mar e a serra, tem uma pista de 940 metros de extensão, mas apenas 560 metros estão disponíveis para pouso na direção usada pelo avião. O manual da aeronave aponta que, em pista molhada, ela precisaria de 838 metros para parar com segurança.
O CEO da Rede VOA explicou que é raro aeronaves a jato, como a que se acidentou, operarem no local. “Não recordamos da última vez que pousou uma aeronave a jato naquele aeroporto. É raro, é muito raro.” Ele esclareceu que o aeroporto recebe majoritariamente helicópteros e aviões turboélice, projetados para velocidades mais baixas e pistas menores.
Moure destacou ainda que aviões a jato precisam de maior velocidade para pousar, o que exige mais espaço. “A aeronave a jato tem maior velocidade também para pousar. Ela pousa com mais velocidade que uma turboélice”, explicou.
Operação em condições visuais e falta de torre de controle
Com cerca de 5 mil pousos e decolagens anuais, o Aeroporto de Ubatuba opera apenas em condições visuais e não possui torre de controle. Segundo o CEO, as torres são exigidas apenas para aeroportos com movimentação superior a 30 mil operações anuais.
A concessionária solicitou ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) a implementação de um sistema de instrumentos para pousos, especialmente pela rota do mar, devido à presença de morros ao redor.
Moure explicou que, no caso do acidente, havia um plano de voo autorizado para o percurso entre Goiás e Ubatuba. Caso o piloto considerasse as condições de pouso inadequadas, ele poderia optar por um aeroporto alternativo, como São José dos Campos.
Ele ressaltou que a responsabilidade pelo pouso é do comandante abaixo de cinco mil pés de altitude. “Existe um conceito na aviação que é a percepção situacional, e isso é muito subjetivo. Se a gente parar para pensar, a tomada de decisão é em frações de segundos”.
No momento do acidente, havia forte nevoeiro na região, conforme registrado por testemunhas. As condições meteorológicas foram descritas como “degradadas” pelo CEO.
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