A Amazônia Legal teve queda de 6,2% no número de mortes violentas intencionais, porém o valor ainda é 41,5% maior do que a média nacional. Os dados constam na 3ª edição do estudo “Cartografias da violência na Amazônia”, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em parceria com o Instituto Mãe Crioula (IMC). O levantamento foi divulgado nesta quarta-feira (11).
A Amazônia Legal conta um total de 772 municípios distribuídos em nove estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins na Região Norte, além de Mato Grosso e parte do Maranhão. A área foi delimitada em 1953, visando criar políticas de crescimento para a região.
Mortes na Amazônia Legal
No ano passado, 8.603 pessoas morreram violentamente na região, contra 9.096 mortes em 2021. A taxa de mortes violentas na Amazônia Legal é de 32,3 a cada 100 mil habitantes, enquanto a média nacional é de 22,8/100 mil habitantes.
Dentre os estados que compõem a região, o índice mais violento da Amazônia Legal, e do Brasil, é o do Amapá: 69,9/100 mil habitantes.
Cidades mais violentas da Amazônia Legal
De acordo com um estudo recente, a taxa de mortes violentas na Amazônia Legal é de 32,3 por 100 mil habitantes, muito superior à média nacional de 22,8.
Apesar de mostrar uma leve tendência de queda, este índice ainda indica um cenário crítico, impulsionado por conflitos territoriais e a presença de facções criminosas. Confira a taxa média por 100 mil habitantes nas cidades mais violentas entre 2021-2023:
1 | Cumaru do Norte (PA) | 141,3 |
2 | Abel Figueiredo (PA) | 115,5 |
3 | Mocajuba (PA) | 110,4 |
4 | Novo Progresso (PA) | 102,7 |
5 | Nova Santa Helena (MT) | 102,3 |
6 | Iranduba (AM) | 102,3 |
7 | Calçoene (AP) | 100,8 |
8 | São José do Rio Claro (MT) | 100,1 |
9 | Nova Maringá (MT) | 96,5 |
10 | Floresta do Araguaia (PA) | 93,2 |
Qual é o impacto das facções criminosas na Amazônia Legal?
A complexidade da questão da violência na Amazônia Legal está intimamente ligada ao domínio e à disputa contínua entre facções criminosas. O fortalecimento de grupos como o Comando Vermelho em determinados municípios resultou em uma diminuição das taxas de homicídio em áreas onde apenas uma facção domina, enquanto territórios com disputa ativa experimentam aumentos significativos nos índices de violência.
A localização estratégica da Amazônia Legal, às margens dos três maiores produtores de cocaína – Colômbia, Bolívia e Peru -, torna a região um ponto-chave para o narcotráfico.
Como o desenvolvimento econômico impacta a violência na região?
A Amazônia Legal não é apenas um foco de conflito urbano; ela está também no cerne de um dilema ambiental e econômico. As rodovias que cortam a região, como a Transamazônica, simbolizam corredores de expansão econômica que, lamentavelmente, também carregam consigo a destruição ambiental e a violência resultante. À medida que essas fronteiras econômicas avançam, invadem áreas de preservação e reservas indígenas, catalisando disputas territoriais violentas.
Consequências sociais da violência na região
As consequências sociais da violência na Amazônia Legal são profundas e multifacetadas. Pequenas cidades, anteriormente pacíficas, tornaram-se epicentros de crime e violência. Municípios como Santana, no Amapá, e Sorriso, no Mato Grosso, exemplificam a interiorização da violência, transformando regiões interioranas em áreas perigosas.
Em 2023, a Amazônia Legal registrou uma taxa de feminicídio significativamente superior à média nacional, e a violência contra indígenas persiste como um desafio crítico, com a região abrigando a maioria dos casos de homicídio indígena do país.
“São setores de desenvolvimento econômico pensados por uma prática predatória. Os vetores acompanham o avanço da fronteira econômica, a questão do pasto, da soja, do desmatamento ilegal. Na medida em que essas fronteiras econômicas avançam, elas avançam sobre as áreas de preservação, sobre reservas indígenas, e passam a ocorrer disputas pelo mesmo território”, analisa, segundo o g1, o pesquisador sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e diretor-presidente do Instituto Mãe Crioula, Aiala Colares Couto.