
Por Lilian Coelho
Em cada discurso, o compromisso ambiental estava presente. Pelo menos, em palavras. A data escolhida 22 de abril, o “Dia da Terra”, não poderia ser mais propícia.
Os Estados Unidos, segundo maior país poluidor depois da China, buscam retomar a liderança climática global. Joe Biden, anfitrião do evento virtual, revelou um objetivo ousado: cortar de 50 a 52% as emissões de carbono abaixo dos níveis de 2005 até o final desta década. Meta que significa, na prática, mudanças drásticas no modo de vida dos americanos.
Só para começar, carros movidos a gasolina terão que ser elétricos. Entre os líderes na Cúpula, esteve o presidente da China, Xi Jinping. Apesar das divergências, na questão climática, o discurso era afinado.
Jair Bolsonaro foi o 19º líder a discursar. Causou estranheza, a princípio, o fato de Biden ter saído um pouco antes. Mal estar logo explicado pela agenda a ser cumprida na própria cúpula.
Bolsonaro reafirmou o compromisso de acabar com desmatamento ilegal até 2030 e reduzir pela metade a emissão de gases poluentes.
“Continuamos a colaborar com esforços mundiais contra a mudança no clima. Somos um dos únicos países em desenvolvimento com metas absolutas de redução de emissões, inclusive para 2025 e até 40% para 2030. Coincidimos com o seu chamado (de Biden) ao estabelecimento de compromissos ambiciosos. Determinei que nossa neutralidade climática seja antecipada para 2050”, disse o chefe do Executivo Federal brasileiro.
Bolsonaro prometeu ainda “fortalecer os órgãos ambientais, duplicando recursos para fiscalização”, mas não foi apresentado um caminho para a realização das ações.
No Brasil, a maior parte das nossas emissões vem do desmatamento. A fiscalização ambiental é um dos pontos fracos da gestão Bolsonaro. Nestes dois anos, o Ministério do Meio Ambiente paralisou operações de campo contra o crime ambiental, atitude que abre caminho para grileiros.
Para a jornalista Laís Duarte, especialista em meio ambiente, o mundo perdeu o equivalente a “uma Holanda” de floresta tropical e as principais perdas foram aqui no Brasil. O presidente brasileiro se comprometeu a atingir neutralidade climática até 2050 – e o mundo observou tudo isso com ceticismo. “O que faz eco lá fora é a falta de compromisso ambiental e a falta de punição pra quem desmata,” pondera a jornalista.
Ela afirma que o Brasil pode perder parceiros comerciais por falta de uma política ambiental coerente, mas pode perder ainda mais: espécies que só existem aqui.
“O presidente americano quer mostrar que sustentabilidade é um ótimo negócio e que pretende incentivar as matrizes energéticas renováveis pra isso. O Brasil tem muito potencial”, afirma.
De acordo com Laís, o Brasil e outros países precisam fazer o dever de casa “para não amargar os prejuízos com emergências climáticas, como secas e enchentes.”
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Perfil Brasil.