Embora o aquecimento dos oceanos nas últimas décadas tenha levado ao aumento da evaporação e precipitação, climatologistas observaram uma dissociação entre esses fatores desde 2008. A possível causa, a diminuição da força dos ventos, desafia os modelos climáticos que previam um aumento linear da evaporação e precipitação em um mundo mais quente.
O Dr. Ma Ning, da Academia Chinesa de Ciências, liderou um estudo que revelou uma redução na evaporação em dois terços dos oceanos do mundo entre 2008 e 2017. Isso contraria a expectativa de que um clima mais quente resultaria em maior evaporação. A pesquisa, baseada em dados até 2017, não discute se essa tendência continua até os dias atuais.
Qual é o papel dos ventos na evaporação dos oceanos?
Os ventos desempenham um papel crucial no processo de evaporação. Quando uma roupa é pendurada para secar, o calor, a luz solar direta e o vento aceleram a evaporação da água. Da mesma forma, esses fatores influenciam a evaporação dos oceanos. A redução na força dos ventos, um fenômeno conhecido como “tranquilização do vento”, pode estar contribuindo para a diminuição da evaporação observada nos oceanos.
Desde o início dos anos 2000, cientistas discutem o “escurecimento global”, um processo em que o aumento de nuvens e neblina, devido à poluição, reduz a luz solar direta sobre a Terra. No entanto, Ma e seus co-autores não acreditam que o escurecimento seja o principal responsável pela redução da evaporação. Eles sugerem que mudanças na circulação atmosférica e na velocidade dos ventos podem estar associadas a variações climáticas naturais.
Como a redução da evaporação afeta o ciclo hidrológico?
A redução na evaporação dos oceanos não deve ser interpretada como um enfraquecimento do ciclo hidrológico. Em vez disso, pode refletir oscilações climáticas naturais. O estudo de Ma utilizou dados de satélite para mostrar que a evaporação caiu nos oceanos entre as latitudes de 60N e 60S, excluindo as regiões polares.
Entre 1988 e 2008, a evaporação aumentou globalmente, mas a tendência decrescente observada entre 2008 e 2017 foi mais lenta do que o aumento anterior. Apesar disso, esses nove anos de diminuição podem ter consequências significativas, especialmente em relação à distribuição das chuvas.
Quais são as implicações para as chuvas e a agricultura?
Alguns argumentam que um aumento nas taxas de evaporação e um mundo mais quente poderiam beneficiar a humanidade com mais chuvas. No entanto, a realidade pode ser mais complexa. O padrão mais comum de precipitação em um clima mais quente é o de chuvas irregulares, com tempestades intensas seguidas de longos períodos de seca. Isso não é ideal para a agricultura, que depende de padrões de chuva mais previsíveis.
Se as observações de Ma estiverem corretas, mesmo as regiões que poderiam se beneficiar de chuvas mais fortes podem enfrentar desafios devido às mudanças climáticas. A intensificação de eventos climáticos extremos pode resultar em inundações e secas, impactando negativamente a agricultura e a segurança alimentar global.
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