Ver brasileiros “invadindo” autódromos britânicos e sendo vitoriosos não é novidade. Pilotos do calibre de Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna são alguns que tiveram esse gostinho na trajetória que os levou para brilhar no topo da Fórmula 1. Eles foram campeões da Fórmula 3 Britânica, uma das categorias de acesso ao automobilismo europeu e que, por muitos anos, foi a principal porta de entrada ao mais importante campeonato à motor do mundo.
Aos 17 anos, Roberto Faria inicia a segunda temporada dele (a primeira completa) na F3 Britânica entre os dias 22 e 23 de maio. Até o momento, ele é o único brasileiro confirmado na competição, que terá oito etapas e segue até outubro. Ele chegou nesta quinta-feira (18) na Inglaterra, onde iniciará os treinos a partir do próximo dia 28, em Silverstone.
“Mesmo sendo um dos mais novos, quero brigar pelo título. Acredito que a gente tem bastante chance, por ter mais experiência com o carro. No ano passado, fiz metade [da temporada] na Fórmula 4 [Britânica] e metade na F3 e fui melhorando. Fiquei em segundo na última corrida [de 2020, pela F3]”, disse o piloto carioca, da escuderia Fortec Motorsports, em entrevista à Agência Brasil.
O lockdown pelo qual passou a Inglaterra no início do ano, devido à segunda onda da pandemia do novo coronavírus (covid-19), adiou o retorno do piloto carioca, que acabou se aventurando brevemente na Fórmula 3 Asiática, entre janeiro e fevereiro, nos Emirados Árabes Unidos. Foram 15 provas em menos de um mês. “Vários pilotos de alto nível participaram, inclusive alguns da Fórmula 2 [como o chinês Guanyu Zhou, que foi o campeão], como forma de preparação”, disse Farias, que terminou o evento em 18º lugar.
Roberto iniciou no kart em 2014, viajando cerca de 90 quilômetros, sempre que precisava treinar, do Rio de Janeiro até o kartódromo de Guapimirim (RJ). Foram cinco anos competindo no Brasil até se mudar para a Inglaterra e passar a correr na Fórmula 4 Britânica. Na primeira temporada, foi o 11º na classificação geral e o terceiro melhor entre os iniciantes. Na segunda, antes de migrar para a F3, o carioca subiu duas vezes ao pódio e brigou pelas cinco primeiras colocações.
“Em 2019, eram 30 mil pessoas para assistir às corridas da Fórmula 4 todo fim de semana. [O Reino Unido] É o polo do automobilismo mundial, com muitas equipes tradicionais. Eu podia ter continuado no Brasil, no kart ou até mesmo alguma categoria de base, mas a gente colocou na balança e viu que era muita a diferença na qualidade do equipamento, pistas e infraestrutura”, contou o jovem, que vive e estuda em Hastings, a cerca de duas horas de trem de Daventry, onde fica a sede da equipe.
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Tradição
A Fórmula 3 Britânica surgiu nos anos 50 e foi disputada regularmente até 2014. A crise financeira vivida pela categoria na década de 2000 e o surgimento da F3 Europeia, que afastou montadoras e pilotos, interromperam o campeonato, que já não ocorreu em 2015. Além de Fittipaldi, Senna e Piquet, outros nove brasileiros foram campeões nesse período: José Carlos Pace, Chico Serra, Maurício Gugelmin, Rubens Barrichello, Gil de Ferran, Mario Haberfeld, Antônio Pizzonia, Nelsinho Piquet e Felipe Nasr. Somente o Reino Unido teve mais títulos.
Em 2016, o Clube Britânico de Pilotos de Corrida (BRDC, sigla em inglês) assumiu a realização do campeonato. O primeiro título da “nova” F3 Britânica foi justamente de um brasileiro: Matheus Leist, que superou, entre outros rivais, o inglês Lando Norris, atualmente na McLaren, na Fórmula 1.
(Agência Brasil)