Ex-presidente polêmico das Filipinas, conhecido por prender rivais políticos, insultar o papa e afirmar ter contratado gângsteres de um “esquadrão da morte”, tenta retomar o poder como prefeito de sua cidade natal. Aos 79 anos, Rodrigo Duterte espera reerguer a influência de sua família, abalada por escândalos e disputas com outra poderosa dinastia do país, os Marcos.
Com um estilo frequentemente comparado ao de Donald Trump, Duterte almeja liderar novamente a cidade de Davao, no sul do arquipélago, onde comandou por mais de duas décadas antes de assumir a presidência de 2016 a 2022. Analistas consultados pela CNN avaliam que sua decisão reflete não apenas ambição pessoal, mas também uma estratégia para blindar sua família das pressões políticas e legais que enfrenta.
Rivalidade entre clãs desafia presidente Marcos e ameaça força política de Duterte
A crise na dinastia Duterte ocorre em meio ao rompimento da aliança entre sua filha, Sara Duterte-Carpio, e o presidente Ferdinand Marcos Jr., herdeiro do legado político do ex-ditador Ferdinand Marcos. Sara foi eleita vice-presidente em 2022 na chapa de Marcos, mas a relação entre os clãs se deteriorou com acusações de corrupção contra ela, que nega as denúncias.
Enquanto a vice-presidente enfrenta pedidos de impeachment e seus aliados sofrem pressão por mais transparência, Duterte busca reforçar o poder da família. Especialistas apontam que seu retorno a Davao é uma tentativa de retomar o controle político em um momento delicado.
“Os Dutertes estão em seu momento mais vulnerável em quase uma década”, afirma o analista político Richard Heydarian, destacando que a decisão de concorrer a prefeito reflete a dificuldade de manter relevância nacional.
Legado de repressão e investigações internacionais
Rodrigo Duterte construiu sua carreira política prometendo “lei e ordem”, mas sua guerra contra as drogas deixou marcas profundas. Durante sua presidência, mais de 6 mil mortes foram registradas em operações policiais, embora observadores independentes sugiram que o número real seja significativamente maior.
Recentemente, Duterte admitiu, em uma audiência no Senado, que contratou um “esquadrão da morte” enquanto governava Davao. “Posso fazer a confissão agora, se você quiser”, disse ele. “Eu tinha um esquadrão da morte de sete, mas eles não eram policiais, eram gângsteres.”
O ex-presidente enfrenta uma investigação do Tribunal Penal Internacional (TPI) por possíveis crimes contra a humanidade, mas mantém seu tom desafiador. Declarou, durante uma audiência na Câmara, estar pronto para enfrentar as acusações, mas avisou que expulsaria qualquer investigador internacional que tentasse entrar no país.
Enquanto isso, Duterte tenta fortalecer sua base eleitoral para apoiar os filhos, Sebastian Duterte, prefeito de Davao, e Paolo Duterte, congressista. Ambos enfrentam resistência local e são vistos como desconectados das necessidades da população.
“É sempre tolice subestimar os Dutertes, dada sua base quase fanática em certas partes do país, mas acho que também não seria tolice pensar que os Dutertes agora também estão enfrentando uma crise existencial”, concluiu Heydarian.
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