
O governo da Argentina anunciou na noite de sábado (15) a abertura de uma “investigação urgente” sobre o lançamento da criptomoeda $LIBRA, promovida pelo presidente Javier Milei. A iniciativa foi divulgada na sexta-feira e retirada do ar poucas horas depois, em meio a suspeitas de fraude e pedidos de impeachment.
A imprensa local divulgou que Milei publicou uma mensagem no X, mantida em seu perfil por mais de cinco horas, com um link para o projeto intitulado “Viva La Libertad Project”.
“O mundo quer investir na Argentina. $LIBRA”, dizia a postagem, referindo-se ao token digital baseado em blockchain, sem lastro em moeda real.
O anúncio do presidente caracterizava a criptomoeda como “um projeto privado” voltado para “incentivar o crescimento da economia argentina, financiando pequenas empresas e empreendimentos argentinos”.
No entanto, especialistas em criptomoedas e economistas argentinos rapidamente levantaram dúvidas sobre a credibilidade do ativo, alertando para o risco de fraude ou esquema de pirâmide.
Horas mais tarde, diante da repercussão negativa, Milei apagou a postagem. “Eu não estava ciente dos detalhes do projeto e, depois que tomei conhecimento, decidi não continuar difundindo-o”, justificou-se, já na madrugada de sábado para domingo.
La Oficina del Presidente informa que el pasado 19 de octubre el Presidente Javier Milei mantuvo un encuentro con los representantes de KIP Protocol en Argentina en el que se le comentó la intención de la empresa de desarrollar un proyecto llamado “Viva la Libertad” para…
— Oficina del Presidente (@OPRArgentina) February 16, 2025
Golpe financeiro ou erro político de Milei?
Com o crescimento das críticas, a presidência anunciou que Milei determinou a intervenção do Escritório Anticorrupção (OA) para apurar se houve irregularidades cometidas por integrantes do governo, incluindo ele próprio.
Além disso, foi criada uma Unidade de Força-Tarefa de Investigação sob o gabinete presidencial para conduzir uma análise detalhada sobre o lançamento da criptomoeda $LIBRA e seus responsáveis.
A movimentação suspeita do ativo foi destacada por analistas financeiros. Segundo a publicação especializada The Kobeissi Letter, cerca de 80% dos $LIBRA estavam concentrados nas mãos de poucos investidores antes da promoção feita por Milei.
Após a postagem do presidente, o valor do ativo disparou, chegando a um pico de US$ 4.978 (R$ 28.512 na cotação atual). No entanto, os primeiros detentores começaram a vender rapidamente, lucrando milhões, o que fez a criptomoeda desabar logo em seguida.
O especialista em informática Javier Smaldone, conhecido por denunciar esquemas fraudulentos, afirmou que essa tática é conhecida no mercado digital como “puxada de tapete”.
“Uma criptomoeda é criada, o que também pode ser feito com ações, recebe uma liquidez inicial para que o que foi criado valha alguma coisa e, em seguida, uma campanha publicitária de algum tipo é iniciada, atraindo pessoas”, explicou.
Smaldone acrescentou que, conforme novos investidores entram, o valor do ativo sobe artificialmente, até que os controladores retiram seu dinheiro, causando o colapso.
Pedido de impeachment
O episódio gerou forte reação da oposição. O senador Martín Lousteau, da UCR (centro), declarou no X que “esta é a segunda vez que, como funcionário, (Milei) anuncia ativos do mundo das criptomoedas que acabam sendo uma fraude”.
O bloco União pela Pátria, liderado por peronistas na Câmara dos Deputados, anunciou que apresentará na segunda-feira um pedido formal de impeachment contra o presidente.
A polêmica reacendeu outro caso: em 2021, ainda como deputado, Milei promoveu a plataforma CoinX, que prometia lucros de 8% ao mês em dólares e hoje também é alvo de investigação por fraude.
Para o deputado da Coalizão Cívica Maximiliano Ferraro, a movimentação em torno da $LIBRA “foi uma manobra especulativa que poderia ser alavancada no poder político do Presidente e no uso de informações privilegiadas”.
Diante disso, Ferraro defendeu que o Congresso crie uma comissão especial para “esclarecer os fatos e determinar as responsabilidades”.
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