$LIBRA

Criptomoeda promovida por Milei causa crise e será investigada

O governo da Argentina anunciou a abertura de uma "investigação urgente" sobre o lançamento da criptomoeda $LIBRA, promovida por Milei.
O presidente argentino Javier Milei – Crédito: depositphotos.com / m.iacobucci.tiscali.it

O governo da Argentina anunciou na noite de sábado (15) a abertura de uma “investigação urgente” sobre o lançamento da criptomoeda $LIBRA, promovida pelo presidente Javier Milei. A iniciativa foi divulgada na sexta-feira e retirada do ar poucas horas depois, em meio a suspeitas de fraude e pedidos de impeachment.

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A imprensa local divulgou que Milei publicou uma mensagem no X, mantida em seu perfil por mais de cinco horas, com um link para o projeto intitulado “Viva La Libertad Project”.

“O mundo quer investir na Argentina. $LIBRA”, dizia a postagem, referindo-se ao token digital baseado em blockchain, sem lastro em moeda real.

O anúncio do presidente caracterizava a criptomoeda como “um projeto privado” voltado para “incentivar o crescimento da economia argentina, financiando pequenas empresas e empreendimentos argentinos”.

No entanto, especialistas em criptomoedas e economistas argentinos rapidamente levantaram dúvidas sobre a credibilidade do ativo, alertando para o risco de fraude ou esquema de pirâmide.

Horas mais tarde, diante da repercussão negativa, Milei apagou a postagem. “Eu não estava ciente dos detalhes do projeto e, depois que tomei conhecimento, decidi não continuar difundindo-o”, justificou-se, já na madrugada de sábado para domingo.

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Golpe financeiro ou erro político de Milei?

Com o crescimento das críticas, a presidência anunciou que Milei determinou a intervenção do Escritório Anticorrupção (OA) para apurar se houve irregularidades cometidas por integrantes do governo, incluindo ele próprio.

Além disso, foi criada uma Unidade de Força-Tarefa de Investigação sob o gabinete presidencial para conduzir uma análise detalhada sobre o lançamento da criptomoeda $LIBRA e seus responsáveis.

A movimentação suspeita do ativo foi destacada por analistas financeiros. Segundo a publicação especializada The Kobeissi Letter, cerca de 80% dos $LIBRA estavam concentrados nas mãos de poucos investidores antes da promoção feita por Milei.

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Após a postagem do presidente, o valor do ativo disparou, chegando a um pico de US$ 4.978 (R$ 28.512 na cotação atual). No entanto, os primeiros detentores começaram a vender rapidamente, lucrando milhões, o que fez a criptomoeda desabar logo em seguida.

O especialista em informática Javier Smaldone, conhecido por denunciar esquemas fraudulentos, afirmou que essa tática é conhecida no mercado digital como “puxada de tapete”.

“Uma criptomoeda é criada, o que também pode ser feito com ações, recebe uma liquidez inicial para que o que foi criado valha alguma coisa e, em seguida, uma campanha publicitária de algum tipo é iniciada, atraindo pessoas”, explicou.

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Smaldone acrescentou que, conforme novos investidores entram, o valor do ativo sobe artificialmente, até que os controladores retiram seu dinheiro, causando o colapso.

Pedido de impeachment

O episódio gerou forte reação da oposição. O senador Martín Lousteau, da UCR (centro), declarou no X que “esta é a segunda vez que, como funcionário, (Milei) anuncia ativos do mundo das criptomoedas que acabam sendo uma fraude”.

O bloco União pela Pátria, liderado por peronistas na Câmara dos Deputados, anunciou que apresentará na segunda-feira um pedido formal de impeachment contra o presidente.

A polêmica reacendeu outro caso: em 2021, ainda como deputado, Milei promoveu a plataforma CoinX, que prometia lucros de 8% ao mês em dólares e hoje também é alvo de investigação por fraude.

Para o deputado da Coalizão Cívica Maximiliano Ferraro, a movimentação em torno da $LIBRA “foi uma manobra especulativa que poderia ser alavancada no poder político do Presidente e no uso de informações privilegiadas”.

Diante disso, Ferraro defendeu que o Congresso crie uma comissão especial para “esclarecer os fatos e determinar as responsabilidades”.

Leia também: Avós da Praça de Maio acusam Milei de tentar fechar museu sobre a ditadura

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