Papa Francisco: “Eu morei 76 anos na Argentina. É o suficiente, certo?”

O Sumo Pontífice disse que não retornará a Argentina se deixar o cargo, embora não tenha descartado uma viagem à região “quando a oportunidade surgir”

Papa Francisco
Papa Francisco diz que não retornará a Argentina se deixar o cargo (Crédito: Annett_Klingner por Pixabay)

Desde que foi consagrado Sumo Pontífice há quase oito anos, a possibilidade de o Papa Francisco visitar a Argentina é objeto de extensas discussões. Depois de sua histórica visita ao Iraque, o chefe da Igreja Católica descartou a ideia de voltar ao seu país de origem, caso deixasse o cargo. No entanto, deixou a porta aberta a uma eventual visita ao país, no âmbito de uma viagem que poderá incluir também o Brasil e o Uruguai, “quando surgir a oportunidade”.

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“Não vou voltar para a Argentina, mas vou ficar na minha diocese. Morei 76 anos na Argentina. Já chega, certo?”, disse ele, segundo a agência AFP, nesta segunda-feira, 8 de março, aos jornalistas que o acompanharam ao Iraque, em entrevista coletiva informal no voo de volta a Roma.

As declarações do bispo de Roma ocorrem após a publicação de “A Saúde dos Papas”, livro de Nelson Castro, que inclui uma entrevista com o padre argentino de 84 anos.

Nesse diálogo, Francisco antecipou que imagina que sua morte será no Vaticano e no cargo. “Sendo papa, seja no cargo ou emérito. E em Roma. Não vou voltar para a Argentina”, disse ele.

Quando o Papa Francisco visitará a Argentina?

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Desde que foi consagrado Sumo Pontífice, em 13 de março de 2013, fala-se na possibilidade de uma visita à Argentina. Francisco viajou à América do Sul em julho daquele ano – em uma viagem pelo Brasil programada por seu antecessor, Bento XVI – e em janeiro de 2018 passou pelo Chile, mas nunca mais voltou a pisar em seu país.

Durante o governo de Mauricio Macri, longos parágrafos foram escritos sobre as diferenças entre o presidente e o bispo, principalmente depois da fria recepção que o presidente teve no Vaticano em 2016. Mas o concreto é que Francisco não voltou ao seu país nem durante a reta final do mandato de Cristina Kirchner ou nos primeiros meses do governo de Alberto Fernández, nem mesmo nos anos em que não houve eleições que pudessem “politizar” uma eventual visita.

Ainda em entrevista informal durante sua volta à Roma, Francisco descartou a existência de uma “fobia-pátria” que o afasta da Argentina.

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“Eu quero dizer para que não achem que se trata de fobia-pátria. Quando se der a oportunidade, vou fazer uma viagem a Argentina, Uruguai e ao sul do Brasil, já que há uma similitude cultural”.

Iraque: um encontro bom para minha alma

O Papa Francisco disse a repórteres que seu encontro histórico no sábado com o Grande Aiatolá Ali Sistani no Iraque foi “bom” para sua “alma”. Apesar de reconhecer que a viagem, a primeira que fez em 15 meses devido à pandemia do coronavírus, o deixou mais cansado do que de costume.

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“Sistani é um homem humilde e sábio”, disse o papa sobre o líder religioso dos muçulmanos xiitas. “Acho que foi uma mensagem universal, senti o dever de fazer esta peregrinação de fé e penitência, e de encontrar um grande homem sábio, um homem de Deus”, comentou.

Sobre o encontro, o padre argentino disse que o iraquiano “é uma pessoa que tem essa sabedoria, mas também prudência”.

“Ele me disse que há 10 anos não recebia visitantes com objetivos políticos ou culturais, apenas aqueles que tinham motivos religiosos. Ele foi muito respeitoso durante o nosso encontro e me senti honrado. Ele nunca se levanta para cumprimentar um visitante, mas se levantou para me cumprimentar duas vezes”, afirmou.

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Há dois anos, Francisco assinou em Abu Dhabi um documento sobre “fraternidade humana” com o grande imã sunita da mesquita Al Azhar, no Cairo, negociado em segredo por seis meses. Esse gesto não foi repetido com o Grande Aiatolá xiita no Iraque, mas o Sumo Pontífice destacou que haveria outras etapas no diálogo com o Islã, citando Sistani, que disse que “os homens são irmãos de religião ou iguais por religião e criação “.

Por fim, o prelado reconheceu que a viagem de três dias ao Iraque foi muito mais exaustiva do que outras visitas ao exterior. “Devo confessar que durante esta viagem me senti muito mais cansado do que os outros”, afirmou ele, que estava chateado com a ciática que sofre e que o obrigou a cancelar compromissos no passado.

Este texto foi traduzido para o português do site Perfil Argentina.

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