
Um erro na hora de compartilhar mensagens sigilosas resultou na exposição de planos militares dos Estados Unidos a um jornalista. A falha envolveu integrantes do alto escalão do governo do presidente Donald Trump, que acabaram incluindo o editor-chefe da revista The Atlantic, Jeffrey Goldberg, em um grupo de conversas reservado.
O grupo, criado no aplicativo Signal, discutia ataques militares contra os Houthis, movimento rebelde do Iêmen ligado ao Irã. As mensagens continham críticas diretas aos aliados europeus e ataques verbais à gestão do presidente Joe Biden.
Entre os integrantes do chat estavam o vice-presidente JD Vance, o secretário de Defesa Pete Hegseth e o secretário de Estado Marco Rubio. Também fazia parte o assessor de segurança Michael Waltz, que teria adicionado Goldberg por engano.
Como mensagens colocaram jornalista em grupo de guerra?
Segundo relato do próprio jornalista, tudo começou em 11 de março, quando recebeu uma notificação do Signal. Desconfiado, Goldberg só deu credibilidade às mensagens após o início dos bombardeios dos EUA contra os Houthis, três dias depois. Os ataques partiram de porta-aviões americanos e foram confirmados por fontes oficiais.
“Eu tinha várias dúvidas sobre se esse grupo era real”, afirmou Goldberg. “Eu não conseguia acreditar que a liderança da segurança nacional dos Estados Unidos iria comunicar no Signal sobre planos de guerra iminentes. Eu também não conseguia acreditar que o conselheiro de segurança nacional do presidente seria tão imprudente a ponto de incluir o editor-chefe do ‘The Atlantic’ em tais discussões com altos funcionários dos EUA, até e incluindo o vice-presidente”, relatou.
A Casa Branca confirmou a autenticidade da troca de mensagens e afirmou estar revisando seus protocolos de segurança para entender como a inclusão indevida ocorreu. “A troca de mensagens que foi relatada parece ser autêntica, e estamos revisando como um número inadvertido foi adicionado ao grupo”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Brian Hughes.
O jornal The New York Times classificou o episódio como “uma falha extraordinária” de segurança.
O aplicativo Signal, embora amplamente usado por sua criptografia, não é autorizado pelo governo dos Estados Unidos para o compartilhamento de informações sigilosas. O Executivo americano possui canais próprios e restritos para esse tipo de comunicação.
As mensagens, segundo The Atlantic, revelam descontentamento com a dependência da Europa em relação à proteção militar dos EUA. “Eu apenas odeio salvar a Europa de novo”, escreveu Vance. “Eu compartilho totalmente do seu desprezo pelos aproveitadores europeus. É PATÉTICO”, respondeu Hegseth. “Mas o Mike está correto, nós somos os únicos do planeta (do nosso lado do muro) que podem fazer isso”, completou o secretário de Defesa.
As conversas também abordaram o impacto político dos ataques. “Acho que a mensagem vai ser difícil de qualquer maneira – ninguém sabe quem são os Houthis – e é por isso que precisamos nos concentrar em: 1) Biden falhou e 2) O Irã financiou”, escreveu Hegseth.
No dia 15 de março, segundo Goldberg, mensagens detalhadas com possíveis alvos foram enviadas ao grupo. Por motivos de segurança, ele optou por não publicá-las: “as informações contidas neles, se tivessem sido lidas por um adversário dos Estados Unidos, poderiam ter colocado em risco militares e pessoal de inteligência americanos, particularmente no Oriente Médio”.
A revista ainda aponta que os envolvidos podem ter infringido a Lei de Espionagem dos Estados Unidos, de 1917, que pune o vazamento de informações sensíveis à segurança nacional.
Ver essa foto no Instagram
Leia também: Trump critica retrato exibido no Capitólio do Colorado: ‘Distorcido de propósito’