No árido e gélido Ártico canadense, um grupo de cientistas e empreendedores embarcou em uma missão de considerável audácia: restaurar o gelo marinho perdido. A iniciativa, liderada pela startup britânica Real Ice, dedica-se a enfrentar as adversidades climáticas numa pequena vila costeira em Nunavut. O objetivo é ambicioso: congelar novamente uma vasta área de mais de 1,5 milhão de quilômetros quadrados do Ártico, um território maior que o dobro do estado da Califórnia. Ao desacelerar ou até reverter a dramática perda de gelo durante o verão, eles esperam contribuir para mitigar a crise climática.
Este plano surge em resposta às consequências diretas das ações humanas sobre o meio ambiente, particularmente o aquecimento global. Desde os anos 1980, a extensão do gelo ártico, especialmente o gelo espesso e permanente, sofreu uma redução de 95%. A decadência deste gelo vital compromete um sistema natural crucial que reflete a luz solar, ajudando a manter baixas as temperaturas do planeta.
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— WRI Climate (@WRIClimate) December 12, 2024
Como funciona o projeto da Real Ice?
O plano inovador da Real Ice envolve o uso de bombas submersíveis elétricas para transferir água salgada da base do gelo marinho para a sua superfície. Essa água, ao congelar, forma uma nova camada de gelo acima da original. Além disso, a remoção da neve acumulada sobre o gelo pré-existente elimina uma camada isolante, o que pode conduzir a um acréscimo de gelo na parte inferior.
Entre janeiro e maio, testes foram realizados em Cambridge Bay, Canadá, produzindo um espessamento médio de 50 centímetros de gelo, resultados que se mostraram promissores. O uso de drones subaquáticos movidos a hidrogênio verde, aptos a perfurar o gelo para implementar o método, é uma das visões futuras da startup para otimizar o processo. Espera-se que a plena implementação deste sistema ocorra entre oito a dez anos, custando anualmente uma soma elevada de bilhões de dólares.
A escala e eficácia do projeto da Real Ice têm gerado um debate vigoroso na comunidade científica. Enquanto alguns especialistas reconhecem a solidez técnica da iniciativa na formação de gelo mais espesso e refletivo, muitos permanecem céticos quanto à sua viabilidade em nível global e sustentável. A sustentabilidade da solução levanta dúvidas, incluindo potenciais impactos ecológicos adversos, especialmente em áreas já vulneráveis do Ártico. As preocupações abrangem desde possíveis mudanças no equilíbrio do ecossistema até questões éticas sobre a intervenção humana em um ambiente tão sensível.
Riscos e benefícios da geoengenharia
A geoengenharia, enquanto campo de proposta ousada, não está isenta de controvérsias. Pastem-se as possíveis consequências inesperadas de tal intervenção maciça no Ártico, bem como o impacto ecológico de uma presença humana intensificada na região. A Real Ice, ciente dos riscos, busca minimizar qualquer efeito colateral significativo, privilegiando um equilíbrio prudente entre inovação tecnológica e conservação ambiental.
O futuro deste projeto, portanto, dependerá de seu potencial em demonstrar vantagens tangíveis sem provocar prejuízos maiores. Uma das premissas fundamentais da Real Ice é que manter o status quo poderá resultar em um impacto ainda mais dramático das mudanças climáticas, justificando a urgência e a necessidade de ação imediata.
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