
Esta segunda-feira (15) marca o dia das eleições para Presidência e Parlamento na Ruanda. No início do mês, o presidente Paul Kagame realizou um pronunciamento sobre suas acusações de autoritarismo. “A democracia é frequentemente mal compreendida ou interpretada de forma diferente pelas pessoas. Mas temos nossa própria compreensão dela com base na realidade particular dos ruandeses e no que precisa mudar em nossas vidas”, disse.
Nesta segunda-feira (15), o país, que há 30 anos viveu um genocídio que matou entre 800 mil e 1 milhão de tutsis, vai às urnas para eleger os representantes da Presidência e do Parlamento —e pôr à prova o significado de democracia em meio a acusações de que o governo vem perseguindo opositores políticos, censurando a imprensa e impedir o trabalho de ONGs.
Kagame é ex-líder da Frente Patriótica da Ruanda (RPF). A organização político-militar derrubou o governo responsável pelo genocídio de pelo menos 800 mil membros das etnias tutsis e hutus moderados. Desde então, ele esteve no poder do país. Nas eleições mais recentes, de 2017, ele conquistou sua vitória com 98% dos votos.
Hoje, a disputa é contra Frank Habineza, líder do único partido de oposição tolerado, e Philippe Mpayimana, candidato independente. Ambos concorreram nas eleições de sete anos atrás.
Entretanto, algumas figuras importantes no país não puderam concorrer. É o caso de Bernard Ntaganda, Victoria Ingabire e Diane Rwigara, que tiveram supostos erros nos processos de candidaturas ou são alvos de processos judiciais.
A ONG Human Rights Watch (HRW) registra que 14 membros do partido de Ingabire, que não é reconhecido pelas autoridades, estão detidos. Alguns aguardam julgamento, e outros receberam penas que não seguem as normas internacionais de direitos humanos.
De acordo com a entidade, pelo menos cinco membros da oposição e quatro jornalistas morreram em circunstâncias suspeitas desde as últimas eleições.
O presidente da Ruanda
Kagame é presidente do país desde os anos 2000. Porém, já mandava no país desde antes, enquanto ocupava os cargos de vice-presidente e ministro da Defesa. Em entrevista à Folha, o professor de relações internacionais da Universidade de Nottingham, David Kiwuwa, explicou que sua permanência no poder está relacionada com sua atuação durante o genocídio.
“Ele é visto praticamente como o salvador de uma Ruanda que estava soterrada em destruição e do desespero. Muitos atribuem a Kagame um papel fundamental no movimento de fim do genocídio”, disse.
Mesmo com a alta desigualdade, Ruanda cresceu social e economicamente. É o país com mais mulheres no Parlamento de todo o mundo, e seu PIB cresce constantemente 8,5% ao ano. No ranking mundial de corrupção da ONG Transparência Internacional, tem a melhor posição entre os países africanos.
Ao mesmo tempo, o partido RPF possui a maior parte das cadeiras no poder Legislativo. Esse é outro fator que contribui para a longevidade do mandato de Kagame.
“Não há um único partido que sequer chegue perto de desafiar sua dominação, seu espaço político, sua capacidade financeira, suas estruturas e configurações institucionais, sua capacidade de mobilização, e assim por diante”, diz o professor.
“Por último, poderíamos dizer que o regime em si não tolera críticas fortes em relação à sua liderança, especificamente o presidente, o que teve um efeito inibidor sobre qualquer crítica que ameaçasse Kagame de alguma forma”, completa.
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