Em meio a tensões históricas e questões não resolvidas, o rei Charles III realizou um discurso no Parlamento australiano nessa segunda-feira (21). A visita real ocorreu enquanto a Austrália continua a navegar por tradições e desafios modernos que são remanescentes de seu passado colonial. Durante seu discurso, Charles III fez menção aos povos das Primeiras Nações, reconhecendo sua presença milenar na terra antes da chegada dos colonizadores britânicos.
No entanto, a presença da família real foi recebida com manifestações de descontentamento. A senadora independente Lidia Thorpe, do fundo da sala, interrompeu o discurso do rei com um grito de protesto, destacando a exigência de devolução de terras e bens aos povos indígenas. Thorpe é conhecida por sua postura crítica à monarquia e pela defesa dos direitos das comunidades indígenas da Austrália.
Charles III e a questão indígena na Austrália
Durante seu pronunciamento, o rei Charles III expressou gratidão pelas contribuições culturais dos povos das Primeiras Nações e pela sua própria evolução pessoal ao ter contato com essas tradições. Uma cerimônia de boas-vindas aborígene antecedeu o encontro no Parlamento, simbolizando um desejo de acolhimento e respeito. Todavia, muitos veem a monarquia como um símbolo do colonialismo que trouxe uma carga imensa de sofrimento aos povos originários.
Histórica e contemporaneamente, a colonização britânica na Austrália resultou em deslocamentos, massacres e discriminação sistêmica dos povos indígenas. Essas ações deixaram cicatrizes que continuam a impactar suas comunidades até hoje. Lidia Thorpe vem de um legado de autoridades indígenas que clamam por tratados formais com a Coroa Britânica, numa tentativa de reparação e reconhecimento das injustiças passadas.
Reações divergentes ao discurso real
A interrupção de Thorpe foi parte de uma série de manifestações. Enquanto os monarquistas expressaram indignação e exigiram sua renúncia, manifestantes do lado de fora do Parlamento exibiram bandeiras aborígenes em um ato de resistência. As imagens de Thorpe usando um casaco de pele de gambá enquanto virava as costas durante o hino britânico circularam amplamente, simbolizando sua rejeição ao controle colonial.
O Partido Verde da Austrália, ao qual Thorpe era então afiliada, apoiou suas ações, chamando a atenção para as cicatrizes deixadas pelo colonialismo e a importância de reconhecer plenamente a história e as injustiças enfrentadas pelos povos das Primeiras Nações. Dorinda Cox, também senadora e membro do Partido Verde, pediu clareza nas ações do rei em relação à justiça e reconciliação com as comunidades indígenas na Austrália.