DTA, a empresa brasileira que quer disputar a Hidrovia do Paraná

O seu presidente, João Acácio, afirma que se trata de um projeto estratégico para o Mercosul e que uma empresa do bloco deveria ter prioridade na licitação

DTA, a empresa brasileira que quer disputar a Hidrovia do Paraná
(Crédito: Divulgação/ DTA)

Embora o Governo tenha transferido por um ano o controle da Hidrovia dos rios Paraná-Paraguai para a Administração Geral dos Portos (AGP), a licitação e a concessão da obra continuam interessando empresas internacionais e também uma empresa brasileira que querem disputar a concessão. A última a se expressar nesse sentido foi a brasileira DTA Engenharia, que quer participar por meio de um consórcio formado junto com a russa Gidrostroy e holandesa De Boer-Dutch Dredging.

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O presidente e CEO da DTA, João Acácio, garante que é um projeto estratégico para o Mercosul e que uma empresa do bloco deveria ter prioridade. Em diálogo com Perfil, ele vai além e afirma que a entrega da Hidrovia à estatal chinesa Shanghai Dredging, que também demonstrou interesse, representa “uma preocupação” para Brasil, Argentina, o Mercosul e os Estados Unidos.

Em que consiste a proposta da DTA Engenharia para concorrer à licitação?

Somos uma empresa 100% brasileira e há 13 anos atuamos em grandes dragagens de obras portuárias no Brasil. Hoje somos líderes absolutos em dragagem portuária, e temos os maiores contratos nos portos de Santos e Paraguaná e na Hidrovia do Rio Tocantins, na Amazônia. A dragagem de obras pesadas, de grande porte, é dominada no mundo por pouquíssimas empresas. São duas belgas, duas holandeses e os chineses. Nossa empresa possui uma equipe técnica e de engenharia muito forte. Vislumbramos a possibilidade de otimizar as obras de dragagem da Hidrovia do Paraná. Fomos recomendados pelo governo brasileiro para participar desta licitação. E logo em seguida, dada a escala dessa obra, estabelecimos uma joint venture, um consórcio, com a Gidrostroy e a De Boer-Dutch Dredging.

Quais são as vantagens da proposta do DTA em relação aos concorrentes?

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Esta Hidrovia é de vital importância para a Argentina e para o bloco comercial do Mercosul. Estou preocupado porque toda a economia do Paraguai navega por este rio, parte da Bolívia e também do Brasil. Eu entendo que não é um interesse pontual da Argentina, mas sim do Mercosul. Quando Mike Pompeo, ex-secretário de Estado de Donald Trump, esteve aqui, ele falou especificamente sobre a Hidrovia. Os Estados Unidos estão atentos a ela. Estrategicamente, entregar uma hidrovia dessa importância aos chineses é uma preocupação para o Brasil, a Argentina e o Mercosul. Acredito que devemos abrir e oxigenar esse processo. A Hidrovia tem um foco estratégico e geopolítico importante. Que não fique nas mãos de chineses ou europeus deveria ser uma questão de segurança para o Mercosul. Temos equipes, queremos estudar tecnicamente e oferecer uma proposta muito vantajosa.

Você já pôde falar com alguma autoridade do governo argentino ou da embaixada?

Ainda não tive contato, mas sinto que há interesse por parte do Governo em conhecer a nossa proposta. Não é um projeto pequeno, mas de longo prazo, e envolve cerca de 300 milhões de dólares por ano, o que permite investimentos em equipamentos específicos. Temos credenciais, experiência, profissionais qualificados em engenharia, com muita vontade. Temos times no sul do Brasil, no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná. Estamos muito próximos, prontos para ajudar o governo argentino e começar a trabalhar.

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Há duas visões no Governo em relação à licitação. Uma delas pretende que o Estado mantenha a administração da Hidrovia e contrate uma empresa privada apenas para fazer os trabalhos de dragagem e balizamento. A outra, pelo contrário, visa dar a concessão a uma empresa privada para a cobrança de um pedágio. Vocês estão abertos a ambos os esquemas ou têm predileção por um ou outro?

Entendo que a concessão com pedágio é a forma mais econômica e viável de contratar este tipo de serviço porque envolve uma obra contínua. Caso o Governo decida contratar uma obra por um ano, também nos apresentaremos, sem problemas. Mas eu entendo que a visão de longo prazo deve ser a cobrança do pedágio. Se o pedágio é caro, é uma questão que tem que ser estudada, existem soluções técnicas, alternativas para otimizar. Temos interesse em estar neste projeto, tanto em um período curto de um ano quanto no longo prazo. Qualquer que seja a decisão do governo argentino, a DTA trabalhará para oferecer uma proposta.

Quanto cobrariam de pedágio caso ganharem a licitação?

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—Seria imprudente falar de valores sem estudar. Eu sei que hoje são cobrados US$ 3 por tonelada. Acredito que é um valor um pouco alto. Mas são 3.500 quilômetros de hidrovia, 1.200 quilômetros de dragagem. Não tenho como lhe dar exatamente um valor. No porto de Santos hoje a carga é cobrada por meio de uma taxa portuária de cerca de US$ 1 por tonelada. Mas é um canal de 25 quilômetros, pequenino. O custo da dragagem é pequeno e é feito quatro meses por ano. Neste caso é uma situação diferente, com custo de balizamento, de sinalização. Entendemos que é possível reduzir o custo e otimizar o serviço.

O governo brasileiro manifestou interesse em que vocês recebam a concessão?

A empresa foi indicada pelo Ministério dos Transportes do Brasil, mas o governo fez de forma muito desassociada e legítima, porque somos nós os que fazemos os maiores contratos com o governo. A DTA dragou cem milhões de metros cúbicos em oito anos. Somos a única empresa brasileira e sul-americana.

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O governo de Jair Bolsonaro expressou alguma preocupação com o fato de que a China possa assumir o controle da Hidrovia?

Não, o governo Bolsonaro não se manifestou sobre isso. Estou contando apenas a preocupação expressa publicamente por Pompeo. É um projeto estratégico para a Argentina e para o Mercosul porque envolve a Bolívia, o Paraguai e o Brasil. O Brasil e a Argentina têm um vínculo comercial muito importante. Creio que um empreendimento deste tipo não pode ser gerido pelo Estado chinês. O interesse deles é geopolítico. Eu preciso fazer um orçamento para ter lucro. A empresa tem que ganhar dinheiro. Competir com uma empresa que tem interesse geopolítico é desequilibrado, não é uma concorrência perfeita. Estarei com o Embaixador Daniel Scioli e com o Embaixador do Brasil em Buenos Aires para desenvolver este assunto.

Rios

  • A Hidrovia dos rios Paraná-Paraguai tem 3.442 quilômetros de extensão. 80% das exportações argentinas passam por ela.
  • A concessão estava em mãos privadas desde 1995. Este ano, o Estado argentino decidiu assumir a administração até que seja chamada uma nova licitação.
  • Além da DTA, teriam interesse na licitação a chinesa Shanghai Dredging, as belgas Deme Group e Jan de Nul e as holandesas Boskalis e Van Oord.

*Texto publicado originalmente no site Perfil Argentina.

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