Orçamento de Biden para economia custará US$ 6 trilhões

O presidente enviou seu projeto orçamentário ao Congresso, onde terá um difícil caminho até a aprovação

Orçamento de Biden para "reinventar" economia custará US$ 6 trilhões
Presidente dos Estados Unidos Joe Biden (Crédito: Alex Wong/Getty Images)

O presidente Joe Biden propôs ontem um orçamento de US$ 6 trilhões para “reinventar” a economia dos Estados Unidos e competir com a China que, se aprovado pelo Congresso, levará o país a uma dívida recorde.

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“Precisamos aproveitar o momento para reinventar e construir uma nova economia americana que invista na promessa e no potencial de cada americano”, disse o presidente em mensagem ao Congresso.

O orçamento “é baseado em um entendimento fundamental de como nossa economia funciona e por que, por tanto tempo e para tantas pessoas, não funcionou”, acrescentou o presidente em sua mensagem introdutória ao projeto.

“É um orçamento que reflete o fato de que o ‘trickle-down economics’ nunca funcionou e que a melhor maneira de fazer nossa economia crescer não é de cima para baixo, mas de baixo para cima e do meio para fora. Nossa prosperidade vem daqueles que acordam todos os dias, trabalham duro, criam suas famílias, pagam seus impostos, servem sua nação e se oferecem como voluntários em suas comunidades”, acrescentou.

Se aprovado, o plano elevará a dívida pública para 111,8% do PIB em 2022, segundo cálculos privados.

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Crise

A pandemia da Covid-19 mergulhou os Estados Unidos em sua pior crise econômica desde os anos 1930 e, embora a maior economia do mundo esteja começando a se recuperar, ainda está longe dos níveis pré-pandêmicos.

“Os Estados Unidos não podem simplesmente se dar ao luxo de voltar ao ponto em que estavam antes da pandemia e da recessão econômica, com as fraquezas estruturais e as desigualdades da velha economia ainda existentes”, advertiu Biden em sua mensagem.

Nos Estados Unidos, o orçamento anual proposto pelo presidente é mais uma lista de desejos ou uma mensagem sobre suas prioridades do que qualquer outra coisa. São os legisladores os que decidem em última instância a quantidade e o destino do dinheiro, e o atual Congresso tem uma maioria democrata muito estreita.

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Os republicanos da oposição tem receio de dar destaque ao governo central. E até mesmo alguns dos apoiadores de Biden alertam que a economia dos EUA, pronta para se recuperar dos efeitos da pandemia, corre o risco de entrar em uma espiral inflacionária devido ao aumento dos gastos.

No entanto, o plano massivo indica a determinação da Casa Branca de dar números concretos à campanha de Biden de repensar a relação entre o governo e o setor privado, no que define como uma corrida existencial com a China.

China

Para o presidente, o aumento de impostos e gastos públicos ajudaria as empresas e seus funcionários. Por um lado, haverá mais produtividade e consumo e, por outro, os investimentos públicos melhorarão a infraestrutura e a pesquisa e o desenvolvimento, o que posicionaria muito melhor as empresas norte-americanas em sua competição global com Pequim, principalmente nas áreas emergentes de alta tecnologia.

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Segundo o plano de Biden, a torneira federal liberaria cerca de US$ 6 trilhões em 2022, com aumentos que elevariam gradualmente a cifra a US$ 8,2 trilhões em 2031.

“Todo esse gasto pode aumentar a dívida, que hoje representa mais de 100% do Produto Interno Bruto. A expectativa é de atingir 111,8% do PIB em 2022 e 117% em 2031.”

O democrata deixou claro o destino dos US$ 6 trilhões: grande parte disso financiaria um projeto de lei de infraestrutura proposto originalmente em US$ 2,3 trilhões, mas que foi reduzido para US$ 1,7 trilhão nas negociações com o Congresso.

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Outro US$ 1,8 trilhão iria para aumentar o financiamento estatal da educação e dos serviços sociais como parte da construção de uma força de trabalho mais capacitada no século XXI.

O objetivo geral, argumentou Biden, é fazer crescer a classe média estadunidense, bem como permitir que os Estados Unidos possam “competir” com os seus rivais.

Pode ser aprovado?

A proposta orçamentária foi lançada pouco antes do fim de semana prolongado do Memorial Day e com o Congresso em recesso por uma semana.

Apresentá-lo agora pode reduzir seu ímpeto no Capitólio, onde muitos democratas querem que Biden use seu controle sobre o Congresso para aprovar uma legislação transformadora, mas os republicanos estão fazendo o possível por bloquear a maior parte das propostas do presidente.

As prioridades de gastos são apenas uma das áreas de divisão entre os dois partidos. Por exemplo, os republicanos são virtualmente unânimes na sua oposição à definição ampla de infraestrutura empregada por Biden, que inclui de energia verde a programas sociais.

E há ainda menos acordo sobre como pagar por essas iniciativas. Biden quer arrecadar dinheiro acabando com um corte de impostos corporativos que os republicanos aprovaram durante o governo do seu antecessor, Donald Trump, e que beneficiou as grandes corporações.

Se aprovados, os aumentos de impostos corporativos sozinhos arrecadariam US$ 2 trilhões em uma década, quase metade disso vindo de taxas sobre o dinheiro que as empresas multinacionais ganham fora dos Estados Unidos. E restaurar os impostos àqueles que ganham mais de US$ 400.000 por ano levantaria outros US$ 750 bilhões ao longo da década.

Os republicanos se recusam a aceitar essas mudanças, dizendo que seus próprios planos de gastos com infraestrutura, mais modestos, poderiam ser pagos com a realocação de dinheiro já orçado mas não gasto.

Apesar do impasse e da escala imensa do gigante orçamento de Biden, a Casa Branca ainda tem um ás em potencial na manga.

Normalmente, Biden precisa de pelo menos 10 republicanos para alcançar as maiorias exigidas no Senado, hoje divididas igualmente entre os dois partidos, uma tarefa difícil na melhor das hipóteses. Porém, se os democratas permanecerem unânimes, o que também não é garantido, eles poderão aprovar o orçamento por meio de um procedimento rápido conhecido como reconciliação, que exige menos votos.

*Texto publicado originalmente no site Perfil Argentina.

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