Coluna – Incertezas da pandemia desafiam preparação paralímpica

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A suspensão da prática de atividades esportivas coletivas por 15 dias em São Paulo, em vigência a partir desta segunda-feira (15), em decorrência do aumento de casos e internações pelo novo coronavírus (covid-19), não impede – pelo menos por enquanto – os treinos profissionais. Não significa, porém, um cenário necessariamente “melhor” para os atletas que miram a Paralimpíada de Tóquio (Japão) e se preparam no Centro de Treinamento Paralímpico, na capital paulista. A incerteza sobre competições marcadas até os Jogos e a viabilidade de participação naquelas já confirmadas, devido à pandemia, é um desafio. Não só pela falta de enfrentamento.

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“Precisamos fazer para alguns atletas, especialmente da natação e do atletismo, a classificação funcional [processo que define a categoria do atleta, conforme o grau da deficiência, e se ele está apto a competir] internacional. Temos atletas em revisão [que têm que ser novamente classificados] e outros novos, principalmente da natação, com plenas condições de irem aos Jogos e serem medalhistas. Se o IPC [Comitê Paralímpico Internacional, sigla em inglês] mantiver a determinação de que não haverá classificação durante os Jogos, teremos que buscar alternativas”, explica o diretor-técnico do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Alberto Martins, à Agência Brasil.

“O cenário atual nos coloca em uma posição que não dá para fechar um planejamento. Tivemos a confirmação do aberto europeu [de natação paralímpica] na Ilha da Madeira, em Portugal, no mês de maio [entre os dias 16 e 22]. Seria uma excelente oportunidade para levarmos nossos atletas, classificá-los e, eventualmente, aqueles que ainda não alcançaram índice [para Tóquio], terem essa chance. Nós, brasileiros, temos hoje dificuldade para entrar em grande parte do países [por conta da pandemia]. Portugal, hoje, está fechado [para voos do Brasil], mas temos expectativa de que, até lá, possamos participar”, emenda.

Os nadadores brasileiros treinam no Centro de Treinamento Paralímpico, no Rio de Janeiro.
Os nadadores brasileiros treinam no Centro de Treinamento Paralímpico, no Rio de Janeiro.

Os nadadores brasileiros treinam no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo. – ALE CABRAL/CPB

Com relação à obtenção de marcas, a corrida paralímpica teve início em meados de 2019. Tanto no atletismo como na natação, as vagas conquistadas pertencem ao país, que as distribui segundo critérios pré-estabelecidos – como a medalha de ouro nos respectivos Mundiais, há dois anos, um feito alcançado por 17 atletas brasileiros (13 do atletismo e quatro da natação). A principal oportunidade para quem ainda não se garantiu nos Jogos seria o Open Internacional Paralímpico, normalmente disputado no fim de março, no CT Paralímpico, mas a edição deste ano, como em 2020, teve que ser cancelada.

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Os circuitos mundiais de ambas as modalidades estão com etapas marcadas. O de atletismo, por exemplo, terá a segunda etapa em Túnis (Tunísia), de quinta-feira (18) a sábado (20), e a terceira em Jesolo (Itália), entre 16 e 18 de abril. Ode natação começa em 8 de abril, em Sheffield (Reino Unido). A participação de brasileiros ainda é uma incógnita.

“Resolvemos, com aprovação do Conselho de Atletas e da diretoria executiva [ambos do CPB], que faremos semanas de treinamento e, em junho, uma seletiva para os atletas que ainda não se qualificaram, mas realmente têm condições de alcançarem os índices. Nos próximos dias, devemos publicar [no site do CPB] os critérios de entrada, que tiveram que sofrer alterações, e também critérios para que os atletas participem das semanas de treinamento e da seletiva. Não dá para abrir para todos. Tem de ter um critério que mostre que ele tem condição de alcançar aquele índice”, argumenta Martins.

“Estaremos evitando, na medida do possível, [a participação de] atletas já qualificados [em competições internacionais], de arriscá-los na exposição, correndo risco de infecção [pelo coronavírus]. Temos dado preferência a quem está buscando qualificação. Sabemos o quanto é importante confronto e ritmo de competição, mas, neste momento, temos que analisar o custo-benefício. Estamos avaliando com a equipe de saúde e os técnicos. É um cenário novo para todos nós e estamos aprendendo a lidar com ele”, completa.

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Halterofilismo e tiro esportivo

Responsável pela gestão do paradesporto no país, o CPB também atua como confederação de quatro modalidades. Além de atletismo e natação, a entidade cuida de halterofilismo e tiro esportivo. No caso da primeira, há a necessidade de os atletas participarem de, pelo menos, uma competição este ano, antes de Tóquio, para concluírem o caminho exigido pelo IPC. Cumprida a missão, os oito primeiros do ranking mundial de cada categoria se garantem nos Jogos.

“Há uma última competição em Dubai [Emirados Árabes], em junho [entre os dias 19 e 26], então a gente trabalha com essa perspectiva. Tenho uma atleta [Lara Aparecida, prata nos Jogos Parapan-Americanos de Lima, no Peru, na categoria até 41 quilos] que precisa ser classificada, pois era menor de idade. Estamos analisando de acordo com o cenário. O Brasil teria, hoje, sete classificados [pelo ranking] mas, como as competições ainda não terminaram, não está fechado. São desafios que estamos enfrentando”, explica Martins.

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João Maria França em simulado de competição de Halterofilismo no CT Paralímpico, em São Paulo.
João Maria França em simulado de competição de Halterofilismo no CT Paralímpico, em São Paulo.

João Maria França em simulado de competição de Halterofilismo no CT Paralímpico. – ALE CABRAL/CPB

A seleção de halterofilismo, inclusive, foi uma das que esteve recentemente no CT Paralímpico, entre 28 de fevereiro e 7 de março. Foi a primeira fase de treinamento na estrutura desde antes da pandemia. Vale lembrar que o CT esteve fechado entre março e junho do ano passado e foi reaberto em julho – inicialmente para alguns atletas de natação, tênis de mesa e atletismo. Desde fevereiro, equipes nacionais de outras modalidades também voltaram a utilizar o local.

“Assim que fechou o CT [em março de 2020], elaboramos um programa de acompanhamento para que o impacto [da impossibilidade de treinar no CT] fosse diminuído. Lógico que não está no momento que eles gostariam, mas, na reunião que tivemos com os treinadores [do halterofilismo], eles manifestaram que estão bem satisfeitos [com os atletas]. Fizeram uma bateria de avaliações físicas, técnicas, biomecânicas e nutricionais. Há outras fases de treino previstas para abril, maio e junho”, finaliza o diretor do CPB.

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Sobre o tiro esportivo, o Brasil tem, atualmente, um atleta garantido nos Jogos: Alexandre Galgani, da classe SH2 (atiradores que precisam de suporte para empunhar a arma), que obteve a vaga em 2019, ao ser vice-campeão da etapa de Dubai da Copa do Mundo. Segundo Martins, há a possibilidade de classificar mais dois atletas na etapa de Lima do circuito mundial, entre os dias 10 e 19 de junho, no último evento antes do fechamento da classificação para Tóquio.

(Agência Brasil)

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