Joe Biden vai à guerra contra um rival poderoso: a indústria farmacêutica dos Estados Unidos

O apoio de Joe Biden à liberação de patentes é a primeira batalha. A próxima é aprovar uma lei que baixe os preços dos medicamentos

Joe Biden vai à guerra contra um rival poderoso a indústria farmacêutica dos Estados Unidos
Presidente dos Estados Unidos Joe Biden (Crédito: Win McNamee/Getty Images)

O anúncio de Joe Biden de apoiar a liberação temporária das patentes das vacinas já encontrou dois fortes oponentes. Um deles é a Angela Merkel, em cujo país atua a BioNTech, o laboratório que, associado à Pfizer, fabrica uma das vacinas para o coronavírus.

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A outra voz contrária à proposta de Biden é, obviamente, a da Pfizer. O seu CEO, Albert Bourla, rejeitou a liberalização temporária de patentes. E propôs acelerar a produção de vacinas – em suas fábricas – para suprir a carência global de vacinas.

Para se ter uma ideia de quantas vacinas contra o coronavírus o mundo precisa, as Nações Unidas relataram que os países de baixa renda – ou seja, todos, exceto os do chamado “primeiro mundo” – tinham acesso a apenas 0,2% do suprimento mundial de doses de vacinas.

“Macron e Putin apoiaram a iniciativa de Biden de liberar as patentes.”

Paralelo a esse cenário, a Open Secrets, organização estadunidense que publica relatórios sobre financiamento privado da política, informou na quarta-feira que a indústria farmacêutica aumentou o dinheiro para fazer lobby em Washington. De acordo com a Open Secrets, nos primeiros três meses de 2021 eles gastaram US$ 92 milhões para fazer lobby – ou seja, pressionar – junto com os parlamentares norte-americanos. Esse número representa 6,3 por cento a mais do que no mesmo período de 2020.

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Desses US$ 92 milhões “investidos” para pressionar o governo Biden, a Pfizer alocou em três meses US$ 3,7 milhões para fazer lobby. Esse gasto a classificou como a segunda empresa farmacêutica dos Estados Unidos em investimentos em lobby. De toda forma, esse número não é nada comparado aos US$ 3,5 bilhões que a Pfizer ganhou com a venda da vacina para a covid-19 nos primeiros três meses de 2021.

Mas, nos Estados Unidos, o laboratório da Pfizer não está sozinho em sua cruzada contra Biden. A Pharmaceutical Research and Manufacturers of America (PhRMA), a maior associação comercial farmacêutica do país, e a Câmara de Comércio endossam a Pfizer. Stephen Ubl, presidente da PhRMA, disse que, ao apoiar a liberação de patentes, “o governo Biden deu um passo que minará nossa resposta global à pandemia e comprometerá a segurança. E vai criar confusão entre os parceiros públicos e privados, enfraquecer ainda mais as já tensas cadeias de abastecimento e encorajar a proliferação de vacinas falsificadas”.

Segundo ela mesma informa, a PhRMA representa mais de 800.000 americanos e investe mais de US$ 100 bilhões anualmente em pesquisa e desenvolvimento. Ele também aumentou a verba para fazer lobby no Congresso nos últimos três meses: 8,7 milhões de dólares.

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E é que tanto a Pfizer, quanto a Câmara de Comércio dos Estados Unidos e a PhRMA, não estão apenas preocupadas apenas com essa “liberação de patentes” proposta por Biden. O aumento do dinheiro para lobby que as multinacionais farmacêuticas gastam e vão gastar se deve ao anúncio feito por Biden no discurso que marcou os 100 dias de governo: baixar os preços dos medicamentos com receita, considerados os mais altos do mundo.

Se Biden conseguir sancionar uma lei para baixar os preços dos medicamentos, o governo poderia economizar mais de US$ 450 bilhões na compra de remédios ao longo da próxima década. De acordo com a lei atual, o Estado deve pagar por certos medicamentos, independentemente de seu custo. Isso permite que as empresas farmacêuticas aumentem os preços dos medicamentos “críticos”.

Em três meses, os laboratórios dos EUA gastaram US$ 93 milhões para fazer lobby no Congresso.

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E frente a isso, Stephen Ubl – chefe da PhRMA – já se posicionou contra a essa lei, alegando que poderia dificultar o acesso dos americanos a medicamentos essenciais. Além de “destruir cerca de um milhão de empregos, sacrificar a liderança americana nas ciências e limitar o desenvolvimento de novos tratamentos (…) É uma pena que os dirigentes no Congresso estejam apresentando novamente este projeto de lei partidário, principalmente agora que estamos lutando contra uma pandemia”.

Pouco depois de completar seus primeiros 100 dias no cargo, Biden abriu uma frente de batalha interna com um rival mais que poderoso, as empresas farmacêuticas multinacionais. Nem Obama, e, em menor medida, nem Trump, conseguiram aprovar a lei que Biden quer para reduzir os preços dos medicamentos.

*Texto publicado originalmente no site Perfil Argentina

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