O inimigo meteorológico de Putin que já afetou Hitler e Napoleão

Esse fenômeno sazonal transforma o continente em um bairro desfavorável ao avanço de veículos militares, algo que já impactou a Alemanha nazista e o avanço francês no passado

O inimigo meteorológico de Putin que já afetou Hitler e Napoleão
Ucrânia (Crédito: Sean Gallup/ Getty Images)

O clima pode ter um papel decisivo na invasão russa da Ucrânia com a chegada prevista da “raspútitsa”, fenômeno sazonal que é inimigo meteorológico de Vladimir Putin, que transforma o continente em um local desfavorável ao avanço de veículos militares. Uma complicação Adolf Hitler e Napoleão Bonaparte também já sofreram.

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Esta palavra russa que significa “tempo de estradas ruins” é uma realidade bem conhecida na Ucrânia, na Rússia e na Bielorrússia, onde temperaturas crescentes e neve derretida na primavera e chuvas fortes no outono se traduzem duas vezes por ano em várias semanas de lama, relatou a agência AFP.

Mesmo antes do início da raspútitsa, imagens de tanques russos e veículos militares enlameados na Ucrânia já circulam nas redes sociais.

“Já houve muitas situações em que tanques e outros veículos russos passaram pelos campos e foram bloqueados. Os soldados foram forçados a abandoná-los e continuar a pé”, disse à AFP o analista militar ucraniano Mikola Beleskov. “Esse problema existe e vai piorar”, acrescentou.

Este fenômeno ocorre nas famosas “terras negras” da Ucrânia, um tipo de solo conhecido como “chernozem”, ao qual este país e as regiões russas vizinhas entre os rios Don e Volga devem sua riqueza agrícola.

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Hitler e Napoleão também sofreram a “raspútitsa”

As tropas de Napoleão já haviam sofrido aquela provação que atrasou sua retirada da Rússia no final de 1812 e as deixou expostas aos rigores do inverno.

Mais de um século depois, na frente oriental da Segunda Guerra Mundial, “as grandes operações mecanizadas foram quase completamente paralisadas durante as fortes chuvas de outono ou degelos da primavera por causa da notória rasputitsa, a lama das planícies russas, e retomadas no inverno, quando o solo endureceu”, explicou o historiador Laurent Henninger na revista francesa Défense Nationale em 2015.

“Foi com a chegada do inverno de 1941 que Hitler foi capaz de lançar sua grande e malsucedida ofensiva para tomar Moscou”, observou ele em um artigo sobre o impacto do fator climático na guerra.

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Na direção oposta, o raspútitsa parou a contra-ofensiva soviética em 1943.

“Lembranças históricas: o degelo causa uma estação de lama (raspútitsa) que dura 3-4 semanas, e sobe do sul (Crimeia) ao norte até a Bielorrússia em poucos dias. Em 1942 começou em 21/03. Em 1943, em 18/03. Em 1944, em 17/03”, disse o historiador militar Cédric Mas no Twitter.

“O tempo não está do lado de Putin”

“O clima não está a favor de Putin”, estimou no domingo, ressaltando que, além das sanções e do isolamento diplomático da Rússia, “o clima vai se deteriorar em breve com a raspútitsa”.

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“O início da primavera é um mau momento para conquistar a Ucrânia”, escreveu o professor de estratégia de segurança nacional Spencer Meredith em um artigo publicado alguns dias após o início da invasão do Instituto de Guerra Moderna da prestigiosa academia militar americana West Point.

“Normalmente, em meados de fevereiro, as estradas estão cobertas de camadas de gelo e neve compactada, que derretem para deixar um campo minado de buracos”, disse ele.

Este ano, de acordo com as últimas previsões, o fenômeno deve começar a se manifestar a partir de meados de março.

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Para as tropas russas, “a situação vai piorar à medida que o clima esquenta e as chuvas começam”, diz Mikola Beleskov. “Eles serão encontrados pregados no chão”, continua ele.

A raspútitsa, que “enlameia o solo”, “canaliza as operações pelo asfalto das estradas e ruas”, indicou na semana passada o historiador militar Michel Goya na revista Le Grand Continent. Isso obriga as forças invasoras a avançar em comboios nos eixos rodoviários, mais expostos a problemas logísticos e ataques.

O fator climático é uma das principais vantagens da Ucrânia sobre a superioridade militar russa, concorda Jason Lyall, especialista em violência política em guerras civis e convencionais da Universidade de Dartmouth, nos Estados Unidos.

Os lançadores de mísseis antitanque Javelin, os mísseis antiaéreos Stinger, a campanha de informação na rede social TikTok e a raspútitsa são “os quatro cavaleiros do exército ucraniano”, resumiu Lyall no Twitter.

ED

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Perfil Brasil.

*Texto publicado originalmente no site Perfil Argentina.

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