Setembro Amarelo: Quando uma “boa intenção” pode atrapalhar

Em busca de oferecer um conforto para quem sofre de problemas na saúde mental, algumas pessoas oferecem um ombro amigo por meio da internet chamado “DM Aberta”. Só que a iniciativa pode não trazer os efeitos desejados, alerta o neurocientista Fabiano de Abreu

Setembro Amarelo Quando uma “boa intenção” pode atrapalhar
(Crédito: Canva Fotos)

Há sete anos, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM) tem organizado uma série de iniciativas que ganharam o nome Setembro Amarelo.

Publicidade

A razão é que neste mês, mais precisamente no dia 10, é celebrado o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Esta é uma realidade que não pertence apenas ao Brasil, mas traz números alarmantes: cerca de 12 mil pessoas tiram suas próprias vidas no Brasil todos os anos enquanto mais um de milhão fazem o mesmo em todo o mundo. De acordo com essas entidades, 96,8% dos casos envolvem questões relacionadas a transtornos mentais, como depressão, transtorno bipolar e abuso de substâncias.

Se por um lado tal iniciativa parece louvável pelo caráter humanitário de auxiliar o próximo, por outro o PhD, neurocientista, psicanalista e biólogo Fabiano de Abreu alerta que esta ideia pode não fornecer o efeito esperado, e até mesmo trazer mais problemas para a pessoa que já está com a saúde mental abalada. “A ‘DM aberta’ pode atrapalhar mais do que ajudar. A pessoa que está em estágio de depressão grave pode ver aquela mensagem de forma pejorativa. Ela pode pensar que o dono da mensagem está feliz reforçando que ele não está, entre outros fatores. Há estágios que são delicados e as estratégias cognitivas são minuciosas”.

Assim, Fabiano alerta: “Mesmo que a pessoa esteja realmente com intenção de ajudar ao próximo, é preciso entender que naquele momento não há a presença de um profissional preparado para lidar com isso. Um psiquiatra, psicólogo ou psicanalista, a depender, por exemplo, saberá o histórico daquela pessoa e a real situação do seu quadro clínico, logo saberá lidar da melhor forma com aquela pessoa que está passando pelos problemas. E um conselho mal dado, ou simplesmente não interpretado corretamente, pode ocasionar uma série de problemas”.

A melhor forma de ajudar quem precisa de amparo, não apenas nesse setembro amarelo, mas no resto do ano, recomenda Abreu, é convencer a pessoa a buscar um tratamento com um especialista: “Converse com a pessoa, a escute, mas reforce a ela a importância de procurar um profissional preparado para lidar com isso. Não assuma essa responsabilidade, você pode estar com aquela vida em suas mãos e isso é algo muito sério”, completa o neurocientista.

Publicidade

Assine nossa newsletter

Cadastre-se para receber grátis o Menu Executivo Perfil Brasil, com todo conteúdo, análises e a cobertura mais completa.

Grátis em sua caixa de entrada. Pode cancelar quando quiser.