
Em meio à queda na popularidade do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reuniu ministros na Granja do Torto para avaliar os fatores que mais prejudicaram sua gestão. Segundo análise apresentada no encontro, as medidas mais impopulares desde o início do terceiro mandato partiram do Ministério da Fazenda. A reunião aconteceu no domingo (16), dois dias após a divulgação da pesquisa Datafolha, que apontou o pior índice de aprovação do governo até o momento.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não esteve presente, pois estava em viagem ao Oriente Médio desde 14 de fevereiro. No encontro, participaram integrantes do núcleo duro do governo, como Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Rui Costa (Casa Civil) e Sidônio Palmeira (Comunicação). Também estiveram presentes a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia), além do titular da Educação, Camilo Santana, e do senador Jaques Wagner (PT-BA).
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O que mais desgastou o governo?
Os ministros apontaram que duas decisões da equipe econômica tiveram grande impacto negativo na percepção pública: a taxação de compras internacionais de baixo valor – conhecida como “crise das blusinhas” em 2023 – e a ampliação da fiscalização sobre transações via Pix, em 2024. Ambas foram elaboradas pela Receita Federal e chanceladas por Haddad.
Além dessas questões, o grupo também discutiu a alta no preço dos alimentos, considerada um terceiro fator de desgaste. No entanto, a avaliação foi de que essa questão está mais ligada ao fortalecimento do dólar e não pode ser atribuída diretamente ao Ministério da Fazenda.
Outro ponto abordado foi a comunicação do governo. Pesquisas internas indicaram que parte da população não reconhece as ações da atual gestão nem sabe identificar sua marca. “É um deserto de informação”, descreveu um dos participantes. Para tentar reverter esse quadro, a estratégia será reforçar a divulgação dos serviços voltados ao cidadão.
Haddad isolado no governo?
Nos bastidores, a ausência de Haddad na reunião reforçou a percepção de que há uma disputa interna dentro do governo. A ala liderada por Rui Costa tem defendido mudanças na equipe econômica, enquanto aliados do ministro da Fazenda argumentam que ele tem cumprido sua missão e que sua posição em favor do ajuste fiscal é solitária.
Recentes derrotas políticas, como a revogação da fiscalização do Pix e o anúncio conjunto do corte de gastos e da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, enfraqueceram Haddad. Segundo apuração do g1, ele era contra o anúncio simultâneo dessas medidas, mas acabou vencido e foi o responsável por comunicá-las.
Há especulações sobre uma possível troca no comando da Casa Civil, com Haddad assumindo o posto. No entanto, conforme o g1, interlocutores próximos ao presidente consideram essa possibilidade remota, já que Lula confia em Rui Costa para articulações políticas estratégicas.
Além da disputa por espaço no governo, pesa também a sucessão presidencial de 2026. Rui Costa já demonstrou interesse em liderar essa corrida, o que tem gerado críticas de que estaria isolando Lula das decisões políticas mais diretas.
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