
Desde criaturas misteriosas sob a cama até ruídos inexplicáveis na noite, é comum que as crianças experimentem algum nível de medo durante seu desenvolvimento. Embora muitos consigam superar essas preocupações, em alguns casos os medos podem evoluir para condições mais sérias, como fobias ou transtornos de ansiedade. Entender a diferença entre um medo comum e um quadro clínico é essencial para apoiar adequadamente as crianças.
O desenvolvimento de certos medos é parte natural do crescimento e pode atuar como um mecanismo de sobrevivência. Contudo, quando esses medos tornam-se excessivos a ponto de prejudicar atividades cotidianas, podem ser classificados como transtornos, explica Thomas Ollendick, Professor Emérito Distinto de Psicologia da Virginia Tech, à CNN. Identificar quando um medo ultrapassa a linha do esperado é crucial para a intervenção precoce e eficaz.
O que desencadeia fobias e transtornos de ansiedade em crianças?
Fobias e ansiedade entre crianças são condições que podem surgir por uma combinação de fatores. Elementos genéticos desempenham um papel significativo, juntamente com experiências traumáticas diretas ou indiretas. Ser testemunha de uma situação assustadora ou ouvir histórias amedrontadoras pode contribuir para o desenvolvimento desses transtornos.
Especialistas indicam que a prevalência de transtornos de ansiedade e fobias entre crianças e adolescentes é relativamente alta, afetando cerca de um terço dessa população. Este cenário ficou ainda mais acentuado com o impacto psicológico trazido pela pandemia de Covid-19, que intensificou as taxas de ansiedade entre os jovens.
Como distinguir entre um medo comum e um transtorno?
Para avaliar se um medo se desenvolveu para além do comum, alguns indicadores podem ser úteis. Esses incluem a frequência, intensidade e duração dos temores. Se um medo se manifesta de forma persistente, afeta o funcionamento diário ou resulta em reações emocionais e físicas intensas, ele pode exigir atenção profissional.
Um critério diagnóstico frequentemente utilizado é a permanência do medo por um período de pelo menos seis meses, conforme sugere o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Porém, a avaliação de um profissional é essencial quando os temores impactam significativamente o desenvolvimento e o bem-estar da criança.
Como os pais podem ajudar seus filhos a enfrentar os medos?
A intervenção adequada dos pais é vital para auxiliar as crianças na superação dos medos. Promover um ambiente de comunicação aberta, onde os medos possam ser discutidos sem receios, é um primeiro passo importante. Encorajar as crianças a confrontarem seus medos, em vez de evitá-los, pode também ser essencial no fortalecimento emocional e psicológico.
- Evite proteção excessiva: Não tentar isolar as crianças de todas as situações pode impulsionar a superação do medo.
- Use reforço positivo: Incentive a coragem com incentivos pequenos, mas significativos, para criar associações positivas.
- Crie planos de ação: Em face de medos do mundo real, planos práticos podem proporcionar uma sensação de controle e segurança.
Quando e como buscar ajuda profissional?
Se as estratégias domésticas não resultam em reduções significativas dos medos após seis meses, é recomendado buscar assistência de especialistas. A terapia cognitivo-comportamental, em particular a terapia de exposição, tem mostrado eficácia no tratamento dessas condições em jovens.
Neste tipo de terapia, as crianças são gradualmente expostas ao objeto ou situação que provoca medo, aumentando sua exposição conforme a criança adquire conforto e resiliência. Pais podem participar desse processo trazendo informações e perspectivas valiosas para os terapeutas, facilitando o progresso da terapia envolvente e adaptada às necessidades específicas da criança.
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