A área portuária do Rio de Janeiro, na região central da capital, inaugurou a primeira fase do Distrito de Arte do Porto, com 18 murais de graffiti assinados por seis artistas da cena urbana, totalizando 3,5 mil metros quadrados (m²) de área. O projeto, idealizado pelo diretor executivo do Núcleo de Ativação Urbana, Hiroshi Shibuya, pretende ser a maior galeria de arte urbana a céu aberto da América Latina, com mais de 11 mil m² de extensão.
Falando à Agência Brasil, Hiroshi Shibuya disse que essa é a fase 1A do projeto, que continuará até dezembro. A partir de janeiro, começará a fase 2, e assim por diante. A próxima etapa da fase 1 prevê entregar, até dezembro, mais 8 mil m² de arte, reunindo mais de 60 artistas e diversas expressões. “Não só muralismo e graffiti, mas estêncil [técnica de pintura que utiliza molde vazado], slam [batalha de versos], poesia, intervenções artísticas. Tudo isso faz parte do contexto artístico do Porto”, disse o diretor do núcleo.
Shibuya informou que já estão planejadas mais quatro fases, cada uma com seis meses de duração, totalizando cinco. “Conforme a gente vai adentrando o Porto Maravilha, a gente sempre encontra novas oportunidades de mapear, desenvolver e transformar. O objetivo é que toda região do Porto Maravilha seja ativada, não só a parte do Santo Cristo, mas o entorno da Rodoviária, Caju, Saúde, Gamboa, a área próxima ao Moinho Fluminense, o Boulevard Olímpico e diversas outras áreas aqui da região”.
Ressignificação
O projeto do Distrito de Arte do Porto pretende desenvolver o território do ponto de vista social e econômico. “A gente não fala só de arte, mas utiliza a arte como mola propulsora do desenvolvimento social e territorial da região”. Estão previstas ações de revitalização de instituições e organizações não governamentais dentro do Morro da Providência e de revitalização de fachadas dos comércios da Rua Santo Cristo.
Há estudos também para a criação de espaços mais humanizados dentro do Hospital do Câncer II (HC II), localizado próximo à Rodoviária do Rio. Hiroshi Shibuya disse que a ideia é chamar artistas mulheres para transformar espaços do hospital em ambientes mais humanizados, com mensagens de empoderamento e força.
“São basicamente mulheres falando para mulheres, ao desenvolver ambientes mais humanizados, quentes, que tragam um pouco mais de conforto para essas pessoas”, disse Shibuya. O HC II é referência para o tratamento de câncer ginecológico.
O projeto do Distrito de Arte do Porto tem apoio da prefeitura carioca, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro, da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto (Cdurp) e da Cury Construtora. O projeto vai construir mais áreas de convivência na região do Porto, antecipando-se aos projetos de construção imobiliária já em curso, melhorando o aspecto visual e aumentando a sensação de segurança no entorno.
Para as próximas etapas, estão previstos festivais de arte, música, cultura e poesia. Serão buscados também novos investidores para a área. “Tudo isso está sendo planejado para ser desenvolvido aqui, após o Distrito de Arte”.
Shibuya informou ainda que o Núcleo de Ativação Urbana foi criado no Porto Maravilha há cerca de sete anos, para ajudar no processo de desenvolvimento da região. “Tudo isso trazendo movimento, trazendo vida e qualidade para a região, que é uma das melhores do Rio de Janeiro, senão a melhor”.
O presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio (Cdurp), Gustavo Guerrante, falou sobre a vocação do Porto Maravilha: “Nós queremos consolidar a área como o maior hub (centro) de arte do Brasil. O Distrito de Arte do Porto vem em completo alinhamento com o bairro que queremos: vivo, com pessoas morando, trabalhando e cheio de cultura e atrações para cariocas e turistas frequentarem”.
Painéis
A obra produzida pelo artista Nadi em homenagem ao samba, com Beth Carvalho e Arlindo Cruz, é intitulada O último dueto. Já o painel feito pela artista Juliana Fervo reforça a liberdade profissional das mulheres, tendo como ilustração uma mulher que trabalha no setor petrolífero, levantando a discussão sobre equidade de gênero no mercado offshore (alto mar).
O artista ACME, por sua vez, ilustra histórias com líderes do movimento negro, com o apoio do Consulado-Geral dos Estados Unidos no Brasil, enquanto Airá OCrespo apresenta o mural Leite Derramado, sobre a desigualdade social, a partir de uma pintura ingênua que mostra a amamentação mas que, ao mesmo tempo, provoca profundas reflexões para quem vê.
Outros artistas, como Ananda Nahu e Marcelo Ment, ilustram o Distrito com temas que envolvem causas sociais, machismo estrutural e equidade.
(Agência Brasil)