Trinta anos após a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), as 15 ex-repúblicas – incluindo a Rússia – constroem suas próprias narrativas. Cada uma a sua maneira, de acordo com o jornal O Globo.
Eram “a união indestrutível de repúblicas livres“, como dizia o hino da URSS, que nunca puderam deixaram o bloco até as reformas de Mikhail Gorbachev, que precederam o desmantelamento.
Mas, fora o legado que as une, muitas repúblicas fogem da esfera de influência de Moscou, motivo de desgosto para o Kremlin e de tensões geopolíticas que afetam as relações do antigo bloco com o resto do mundo.
Discórdias
Desde 2004, a Letônia e a Lituânia são parte da União Europeia (UE). Ambas se associaram à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), criada em 1949 para proteger o Ocidente da então superpotência soviética da qual foram parte de 1940 a 1991.
A Letônia, por exemplo, tem dois milhões de habitantes, dos quais pouco mais de 25% russos, e não quer nada com o passado do velho regime. De Vladimir Putin, quer distância.
O mesmo ocorre na Ucrânia, que vem limitando uso do idioma russo na vida cotidiana. Considerado berço da civilização russa, o país vive às turras com o vizinho há pelo menos uma década. Seus nacionais têm de aprender o ucraniano, que passou a ser o idioma obrigatório para servidores, soldados, médicos e professores a partir de uma lei aprovada em 2019.
O idioma, inclusive, se tornou tema sensível e bandeira de nacionalistas, sobretudo após a anexação da Crimeia por Moscou em 2014. E a Ucrânia também tenta se aproximar da UE e se candidatar a membro da Otan.
Já Belarus (ou Bielorrússia), do presidente Alexander Lukashenko, eleito pela primeira vez em 1994, se mantém aliada fiel do Kremlin. Única ditadura da Europa, é fortemente dependente da Rússia para sobreviver.
Durante a escalada das tensões entre o Kremlin e o Ocidente após a crise ucraniana e a imposição de fortes sanções econômicas aplicadas à Rússia, Belarus se tornou uma espécie de intermediário: importava bens da UE e reexportava para o vizinho.
Há ainda as ex-repúblicas que mantêm laços estreitos com a Rússia, mas que souberam operar segundo seus interesses. Foi a forma que encontraram para garantir a permanência das elites de sempre no poder.
Este é o caso das antigas repúblicas da Ásia Central (Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão), que mantêm relações profícuas com a Europa, de onde recebem doações importantes, e com a China, de onde vêm gordos investimentos.
Nesta parte do mundo, líderes autoritários, egressos do regime soviético, mantiveram-se no poder ajudados por elites, que pouco se movimentaram para garantir o bom funcionamento das instituições democráticas.
*reportagem original em:https://oglobo.globo.com/mundo/trinta-anos-apos-fim-da-urss-ex-republicas-sovieticas-ainda-buscam-suas-proprias-narrativas-25331817