Após a expansão econômica e a relativa recuperação registrada em 2021, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) indica que o crescimento econômico passará de 6,3% em 2021 para aproximadamente 2,1% em 2022 ao baixo crescimento que o caracterizou nos últimos tempos. Dadas as consequências da guerra entre a Rússia e a Ucrânia as estimativas de incerteza e um retorno ao crescimento lento se aprofundaram.
Em 2021, a região apresentou uma forte recuperação com diferentes capacidades devido aos processos de vacinação e à implementação de políticas para mitigar os efeitos da pandemia. No entanto, a guerra na Ucrânia intensificou as pressões inflacionárias e a desaceleração da atividade econômica que já estavam em andamento, e em 2022 o efeito rebote desaparecerá com danos à atividade econômica global.
Embora a guerra aprofunde a crise global, como em crises anteriores, a deterioração econômica é desigual: é aguda em algumas sub-regiões, países e indústrias e praticamente nula em outras.
Segundo a CEPAL, as economias da região enfrentam um cenário complexo em 2022, não apenas pela desaceleração da economia e do comércio internacional, mas também pelo aumento da inflação, contração dos mercados de trabalho e aumento da desigualdade. Soma-se a isso as interrupções na produção de energia e o aumento de seus preços, a crise alimentar, a queda da demanda externa e a volatilidade financeira.
Segundo o relatório da CEPAL, Repercussões na América Latina e no Caribe da guerra na Ucrânia: como enfrentar esta nova crise? O crescimento para 2022 aponta diferenças importantes. Enquanto a ALC crescerá 1,8% e a América Latina 1,7%, a América do Sul crescerá apenas 1,5% e as economias da América Central registrarão um crescimento de 2,3%. E quanto ao crescimento do Caribe, se a Guiana for excluída, o crescimento seria de 4,7%, mas se for incluído, aumentaria para 10%.
No comércio internacional, as economias que mais sofrerão serão as do Caribe e da América Central, por serem importadoras líquidas de energia, o que se refletirá nas pressões sobre a balança comercial.
Apesar do baixo peso do comércio entre México, Rússia e Ucrânia, a guerra aprofunda as tendências de alta da inflação e das taxas de juros em detrimento da atividade econômica. Isso afeta uma escalada de preços de bens e serviços. Para o Brasil, a volatilidade dos preços dos fertilizantes e a redução de sua oferta têm sido desastrosas para essa economia. O Brasil concentra 56% das importações de fertilizantes que chegam à região da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia, o que pressiona fortemente o setor agrícola brasileiro.
Portanto, as projeções de crescimento para as duas principais economias da região também são diferenciadas. A CEPAL estima que o México crescerá 2,3%, enquanto o Brasil atingirá apenas 0,4% em 2022.
Por outro lado, os efeitos serão positivos para os países exportadores de produtos energéticos como Venezuela, Trinidad e Tobago, Colômbia e Bolívia, devido ao aumento dos preços do petróleo, gás e carvão. No entanto, como esses países são importadores de derivativos, os efeitos também podem ser negativos.
Finalmente, o conflito entre a Rússia e a Ucrânia pode desencadear uma crise alimentar global, principalmente devido à perda da capacidade de produção agrícola na Ucrânia e à paralisação do comércio de grãos e fertilizantes com a Rússia. Para evitar essa situação, a articulação regional é essencial e o Plano de Segurança Alimentar, Nutrição e Erradicação da Fome da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) 2025 deve ser reativado e adaptado ao contexto atual.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Perfil Brasil.
*Texto publicado originalmente no site Perfil Argentina.