Após ser preso neste domingo (24), ao se entregar na Superintendência da Polícia Federal, na região portuária do Rio, Zinho ainda não prestou depoimento. Investigadores afirmaram à Folha de São Paulo que esperam que ele faça uma delação premiada, entregando nomes de empresários, políticos e policiais que tenham envolvimento com a milícia.
Em Bangu 1 existem 48 celas individuais, de modo que os presos não tem contato uns com os outros. A penitenciária é destinada para casos de disciplina e é passagem antes da transferência para o sistema penitenciário federal. O governo do Rio de Janeiro realizou a transferência de Zinho para uma unidade de segurança máxima fora do estado na manhã desta segunda-feira (25).
No último dia 18, o Tribunal de Justiça do Rio afastou do cargo a deputada estadual Lúcia Helena Pinto de Barros (PSD), a Lucinha. Ela é acusada de ser o braço político de Zinho e teria influenciado tentativas de mudanças de comandantes de batalhões que combatiam a quadrilha. Outra suspeita que recai sobre ela é de que teria agido para soltar um miliciano que estava sendo conduzido a uma delegacia. Sua defesa nega todas as acusações.
Policiais ouvidos pela reportagem de Bruna Fantti afirmam que, entre os motivos que teriam levado Zinho a se entregar estariam questões familiares e o cansaço da vida de foragido. Procurada, a defesa de Zinho não retornou as ligações e as mensagens. Em outras ocasiões, os advogados do preso negaram todas as acusações contra ele.
Caso não seja transferido para um presídio federal após 30 dias, Zinho irá para a Penitenciária Bandeira Stampa, unidade prisional que, desde 2016, é reservada para milicianos. Atualmente, há cerca de 500 presos na unidade. Entre os internos estão suspeitos de integrarem a quadrilha de Zinho.
Das 833 áreas listadas pela Polícia Civil como sendo de influência da milícia, 812 têm a mão do grupo. Os paramilitares exercem o domínio das regiões ao cobrar de seus moradores taxas extras, extorquir comerciantes e forçar monopólios de serviços básicos, como gás e luz.
Uma informação destacada na reportagem da Folha é a do Geni/UFF (Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos), em que dados atestam que grupos milicianos ocupam quase 60% da região metropolitana. Na última terça-feira (19), a PF e o Ministério Público do Rio fizeram uma operação contra Zinho e outros milicianos do mesmo grupo. Eles são suspeitos de praticar crimes como formação de milícia privada, extorsão, homicídios, lavagem de capitais, além de porte, posse ilegal e comercialização de armas de fogo.
Segundo a investigação, as cobranças de taxa extra são planilhadas pelos paramilitares. Apenas em fevereiro deste ano, o grupo criminoso arrecadou mais de R$ 308 mil com a cobrança de taxas feitas a grandes empresas do ramo da construção civil atuantes na zona oeste do Rio.
“No intuito de ocultar e dissimular a natureza, origem e a localização do dinheiro ilícito, os criminosos valiam-se de variadas contas para recebimento e circulação dos valores obtidos através das extorsões”, diz o Ministério Público.
*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini