A pandemia de covid-19 afetou o desenvolvimento humano em escala global, com impacto particularmente significativo nos países da América Latina. No Brasil, a crise sanitária resultou em um retrocesso médio de 22,5%, equivalente a um retrocesso de seis anos no desenvolvimento humano, segundo relatório divulgado nesta terça-feira (28) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em Brasília.
O estudo analisa o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) dos estados brasileiros entre 2012 e 2022, destacando os impactos da pandemia. O IDHM é medido por três dimensões: longevidade, renda e educação. “A reação no IDH brasileiro nos faz perder 10 anos de melhoria no IDH longevidade, 10 anos de melhoria no IDH renda e dois anos de melhoria no IDH educação“, afirmou Betina Barbosa, coordenadora de Desenvolvimento do PNUD.
Desigualdade social
O estudo revela que a pandemia afetou de maneira desigual diferentes populações. As mulheres negras foram as mais vulneráveis em termos de desenvolvimento e oportunidades. “Temos 27% dos lares brasileiros chefiados por mulheres negras, representando quase 30% da população brasileira, e nesses lares estão quase 34% de todas as crianças e jovens de até 14 anos. No entanto, o rendimento total desses lares chega a apenas 16% do rendimento do Brasil”, destacou Barbosa.
A pesquisadora projeta que, no futuro, a maioria da população será composta por negros e pardos, como já ocorre na região Norte, onde esse grupo representa 80%. Dada essa vulnerabilidade, o estudo recomenda uma repactuação do desenvolvimento humano focada em educação, saúde e renda, com atenção especial à raça e gênero.
Durante o lançamento do relatório, a ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, afirmou que o estudo é uma ferramenta crucial para repensar políticas públicas. “Uma das grandes mensagens do governo Lula é justamente a questão do combate às desigualdades, favorecendo nossa diversidade”, disse a ministra.
IDH e mortalidade na pandemia
O relatório também trouxe um dado surpreendente: o desenvolvimento humano não foi um indicador direto das taxas de mortalidade por covid-19. Estados com maior desenvolvimento humano, como Rio de Janeiro e Paraná, além do Distrito Federal, registraram as maiores taxas de mortalidade. Em contrapartida, o Maranhão, com o menor IDH do país, teve uma taxa de mortalidade tão baixa que, se replicada em todo o Brasil, poderia ter reduzido pela metade o número de mortes entre 2020 e 2021.
Betina Barbosa atribui este resultado às 487 medidas de combate à covid-19 adotadas pelo Maranhão, que incluíram a compra conjunta de medicamentos e a mobilização de leitos entre estados, permitindo respostas mais eficazes durante a crise.
O relatório do PNUD destaca a necessidade de políticas públicas robustas para mitigar o impacto de crises no desenvolvimento humano, como demonstrado pela resposta eficiente do Maranhão durante a pandemia de covid-19.