O recente aumento dos casos de Mpox, juntamente com a circulação de uma nova variante mais perigosa do vírus, está colocando as autoridades de saúde em estado de alerta. O Ministério da Saúde divulgou uma nota afirmando que está acompanhando a situação global de perto, em conjunto com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e instituições como o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC).
Nesta terça-feira (13), uma reunião foi convocada pelo Ministério da Saúde com especialistas, para atualizar as recomendações e o plano de contingência para a doença no Brasil. Embora o risco seja considerado baixo no momento, a vigilância permanece intensa.
O diretor-geral da OMS destacou que o número de casos em seis meses é igual ao registrado em todo o ano passado e que o vírus se espalhou para províncias anteriormente não afetadas. Além disso, cerca de 50 casos foram relatados em quatro países vizinhos que não tinham registros de Mpox: Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda.
O aumento expressivo de casos de Mpox na RDC chamou a atenção das autoridades de saúde globais. Dada a propagação da Mpox fora da República Democrática do Congo (RDC) e a possibilidade de uma nova propagação internacional dentro e fora da África, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, decidiu convocar um comitê de emergência para avaliar se a atual situação constitui uma emergência de saúde pública de interesse internacional.
Como o vírus da Mpox é dividido?
Um dos temores é que a cepa que tem se disseminado não é a mesma do surto de 2022. O vírus Mpox é dividido em duas linhagens, chamadas de Clado I e Clado II. A II, que é mais branda, foi a responsável pela propagação global em 2022, o que foi ligado a ela ter começado a ser transmitida por meio de relações sexuais.
Agora, a OMS relata a identificação de uma nova versão do Clado I, batizada de Clado Ib, que também passou a ser disseminada pelo contato sexual, explica a virologista Giliane Trindade, coordenadora do Laboratório de Vírus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e professora de Microbiologia da instituição. O Clado I é historicamente conhecido, afeta a RDC e principalmente países da África Central, e tem uma letalidade maior.
Qual o impacto desta nova linhagem?
O Clado Ib, por exemplo, já foi confirmado no Quênia, Ruanda e Uganda, enquanto há casos em Burundi que ainda estão sendo analisados. Em termos de gravidade, a RDC acumula mais de 500 mortos em 2024, enquanto o surto global de 2022 chegou apenas a cerca de 120 óbitos em todos os países naquele ano. A mortalidade agora é completamente diferente da que observamos com a outra linhagem de Mpox do surto de 2022. Ela chega a ser de 4% dos casos notificados em adultos e até 10% em crianças pelo que temos observado na RDC.
Quais são os sintomas da Mpox?
A Mpox se manifesta com erupções na pele (lesões), como bolhas, além de febre e dores musculares. O diagnóstico pode ser confundido com doenças mais comuns, como herpes e sífilis, por isso a importância da testagem.
Segundo dados da OMS, 66% dos casos e 82% das mortes na RDC até agora foram abaixo de 15 anos, e 73% entre homens. A virologista Giliane Trindade destaca que a agressividade da nova linhagem é preocupante, especialmente considerando o mundo globalizado, o que aumenta o risco de disseminação para fora da África.
Existe vacina para a Mpox?
Sim, uma das vantagens da experiência com o surto de 2022 é a acessibilidade das vacinas, inicialmente desenvolvidas para a versão tradicional da varíola, erradicada em 1980. Essas vacinas também conferem proteção contra a Mpox por serem da mesma família de vírus. Desde junho, as vacinas vêm sendo aplicadas na RDC.
O diagnóstico laboratorial é realizado através de técnicas de biologia molecular, como o PCR, em amostras coletadas diretamente das lesões suspeitas. Nessas situações, o resultado pode indicar que a pessoa é portadora do vírus, sem necessariamente apresentar sintomas da doença. Mesmo assim, recomenda-se adotar medidas para prevenir a transmissão a outras pessoas.