A recente onda de incêndios no interior de São Paulo tem agravado a situação já crítica das lavouras de cana-de-açúcar, fortemente afetadas pela seca que persiste na região desde abril. O fogo destruiu campos de cana prontos para colheita e também rebrotas destinadas à próxima safra, gerando preocupações econômicas e logísticas para os produtores.
Especialistas como José Guilherme Nogueira, CEO da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), e Maurício Muruci, analista da Safras e Mercados, alertam ao g1 que os danos vão além das perdas imediatas. Eles destacam o aumento dos custos de produção e a potencial elevação dos preços do açúcar e etanol como consequências diretas.
Desde o início da safra, em abril, as expectativas de colher 420 milhões de toneladas de cana no estado de São Paulo foram frustradas pela falta de chuvas. A Orplana agora projeta uma colheita de apenas 370 milhões de toneladas, uma redução de 12% em relação à previsão inicial. A seca tem deixado as plantas mais finas e com menor teor de açúcar, comprometendo a produção de açúcar e etanol.
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Como os incêndios afetam a produção de cana?
Os incêndios do último final de semana queimaram cerca de 6 milhões de toneladas de cana-de-açúcar que estava pronta para colheita, afetando aproximadamente 80 mil hectares e gerando um prejuízo de R$ 500 milhões. Isso representa 1,5% da produção total do estado, mas o impacto é mais significativo, pois também destruiu rebrotas fundamentais para futuras safras.
Cada planta de cana pode rebrotar de cinco a seis vezes, permitindo múltiplas safras. Com as rebrotas queimadas, os produtores enfrentarão maiores custos de replantio e menor produtividade futura. Estima-se que o replantio custa cerca de R$ 13 mil por hectare, onerando ainda mais os agricultores.
Impactos nos preços do açúcar e etanol
A seca e os incêndios têm elevado os preços do açúcar e do etanol, refletindo a escassez de matéria-prima. Desde quinta-feira passada, a cotação do açúcar bruto na bolsa de Nova York já subiu 8%, com aumentos de 3,5% na segunda-feira e 3,36% na terça-feira. Para o etanol, os consumidores devem sentir o impacto nos preços em 15 a 20 dias, período necessário para que a cana afetada seja colhida, processada e distribuída.
Medidas preventivas e investigações
A prática de queimar a palha da cana para facilitar a colheita foi praticamente abolida após a assinatura do Protocolo Agroambiental – Etanol Mais Verde em 2007. Hoje, 98,7% da colheita é mecanizada, sem necessidade de uso de fogo. No entanto, incêndios acidentais e criminosos continuam ocorrendo.
Os produtores, usinas e o corpo de bombeiros adotaram planos de auxílios mútuos (PAMs), que se apresentam como redes de apoio e alerta em casos de incêndio. Estas medidas visam uma resposta rápida e coordenada para minimizar os danos.
Até o momento, seis indivíduos foram presos suspeitos de iniciarem os incêndios. As investigações continuam, com a Polícia Federal e a Polícia Civil apurando as causas e as circunstâncias.
No domingo (25), a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, enfatizou a necessidade de investigação, classificando os incêndios como atípicos e preocupantes. A PF já instaurou dois inquéritos para apurar os responsáveis e as motivações por trás das queimadas.
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