O desmatamento na Amazônia apenas em agosto foi equivalente a cinco vezes o tamanho de Belo Horizonte, o maior índice para o mês em 10 anos. Com isso, o acumulado desde janeiro de 2021 também ficou como o pior da década. Os dados são do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Com 1.606 km² de floresta destruída, agosto foi o quinto mês deste ano em que o desmatamento atingiu o pior cenário desde 2012. Março, abril, maio e julho também tiveram a maior área de floresta destruída em 10 anos, o que indica que as medidas tomadas para combater a derrubada não conseguiram baixar o ritmo do dano ambiental.
Em relação a agosto do ano passado, a área desmatada neste ano é 7% superior. Já o acumulado de janeiro a agosto, de 7.715 km², é 48% maior do que no mesmo período de 2020.
“Se quisermos evitar que o ano feche com a maior área desmatada da década, precisamos urgentemente adotar ações mais efetivas, como aumentar o embargo de terras já desmatadas ilegalmente e intensificar operações de fiscalização, com a devida punição dos desmatadores”, alerta Antônio Fonseca, pesquisador do Imazon.
Além disso, o especialista aponta que é preciso destinar terras públicas que ainda não tiveram seu uso definido para criação de novas áreas protegidas, como unidades de conservação, terras indígenas e territórios quilombolas. Outra medida, segundo ele, seria barrar projetos de lei que flexibilizam regras para regularização fundiária, retiram direitos dos povos indígenas e reduzem áreas protegidas.
Pará segue na liderança como estado que mais desmata
Desde maio, o Pará segue consecutivamente no topo do ranking dos estados que mais desmataram na Amazônia, e teve 638 km² destruídos apenas em agosto. Essa área representa 40% de toda a devastação na Amazônia Legal e é maior do que São Luís.
Além disso, em agosto, o Pará concentrou 6 das 10 unidades de conservação do ranking das que mais desmataram e metade dos municípios, terras indígenas e assentamentos.
“Apenas os cinco municípios paraenses que figuram na lista dos 10 que mais desmataram, Altamira, São Félix do Xingu, Pacajá, Itaituba e Portel, concentraram 40% do total de desmatamento detectado no estado. Todos estão na lista do Ministério do Meio Ambiente (MMA) que indica os municípios prioritários para prevenção, monitoramento e controle do desmatamento. E eles ainda apresentam grandes blocos de áreas protegidas em seus territórios, o que torna esse desmatamento ainda mais perigoso e agravante”, comenta Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon.
Municípios do sul do Amazonas são os que mais destruíram a floresta
Na lista dos estados, o Amazonas segue pelo quarto mês consecutivo como o segundo que mais desmata na Amazônia, com 412 km² de floresta devastada em agosto (26% do total). Porém, no ranking dos municípios, duas cidades do sul amazonense ficaram em primeiro e em segundo lugar entre as maiores desmatadoras: Lábrea e Boca Acre. Ambas somaram 185 km² de destruição em agosto.
“O fato desses municípios do Amazonas estarem no topo do ranking dos que mais desmataram é reflexo da intensificação do avanço da fronteira do desmatamento no sul desse estado, algo que estamos alertando em nossos últimos monitoramentos”
Acre ocupa terceiro lugar pela primeira vez no ano
Com 236 km² de floresta desmatados em agosto (15% do total), o Acre entrou pela primeira vez no ano no terceiro lugar do ranking dos estados que mais destruíram a Amazônia. Apenas dois municípios, Sena Madureira e Feijó, somaram 95 km² de desmatamento, 40% do registrado no estado.
O Acre também teve duas entre as 10 unidades de conservação com as maiores áreas destruídas em agosto, a Resex Chico Mendes e a Resex do Cazumbá-Iracema.
“O Acre apresenta uma dinâmica de desmatamento com áreas menores, mas em grande quantidade. Quando analisamos o mapa de perda de floresta na Amazônia, notamos uma intensidade muito alta de ocorrências de alertas no Acre, especialmente na divisa com os estados do Amazonas e de Rondônia. Isso indica a possibilidade da região estar sendo alvo do avanço da fronteira do desmatamento, que está mais evidente no sul do Amazonas”, explica Fonseca.