O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Rio de Janeiro abre amanhã (9) a exposição Nise da Silveira – A Revolução pelo Afeto, com 90 obras de ex-pacientes da psiquiatra, que fazem parte do Museu de Imagens do Inconsciente, além de peças de arte contemporânea. A exposição poderá ser vista até o dia 16 de agosto.
As visitas presenciais são diárias, exceto às terças-feiras, e acontecem no horário de 9h às 18h, com agendamento gratuito online pelo site de venda de ingresso para eventos. A partir de julho, a exposição poderá ser visitada também por meio de uma galeria virtual em 3D.
A médica psiquiatra alagoana foi a única mulher a se formar em uma turma com mais de 150 homens. Nise da Silveira ficou mundialmente conhecida pela ideia vanguardista de usar o afeto como metodologia científica no tratamento de pessoas com problemas psíquicos.
O curador e produtor da mostra, Diogo Rezende, disse que procurou estabelecer um diálogo entre a narrativa da exposição e a seleção de artistas do Museu de Imagens do Inconsciente e trabalhos de arte contemporânea, que são pontuados em momentos específicos.
“A exposição tem três grandes núcleos. A gente começa na sala de Contexto, Dor e Afeto; depois passa pela sala mais biográfica, denominada Atelier, que é o espaço de pesquisa e trabalho da Nise; e no terceiro ambiente, a gente usa a metáfora do engenho de dentro como o inconsciente”, disse Rezende.
Contraponto
No terceiro núcleo, o público poderá conhecer um pouco da relação da psiquiatra Nise da Silveira com seu professor Carl Gustav Jung, suas pesquisas sobre o inconsciente e sobre o território e o significado da expressão engenho. Para fazer um contraponto com o período da monocultura do açúcar, na era colonial, o curador trouxe um trabalho contemporâneo de Tiago Sant’ Ana. “É um trabalho de performance, dentro de fazendas abandonadas do Recôncavo da Bahia. A gente traz esse trabalho como um recorte, para falar um pouco do território do Engenho de Dentro, bairro da zona norte do Rio”.
Segundo explicou Diogo Rezende, a passagem dos 22 anos de morte de Nise da Silveira este ano foi o principal estímulo para propor o projeto da mostra. O Museu de Imagens do Inconsciente ajudou a construir o projeto, explicou o curador.
O psiquiatra Vitor Pordeus, que trabalhou no Instituto Municipal Nise da Silveira de 2009 a 2016, salientou que ao buscar formas de acessar as camadas do inconsciente e criar um diálogo entre o inconsciente e a sua expressão em imagens, por meio de ferramentas artísticas e com aplicações científicas, Nise acabou reformando o entendimento da loucura no mundo.
“A Nise criou um método clínico centrado no afeto. Ela é herdeira de Juliano Moreira, de Baruch Espinoza, de Sigmund Freud, de Carl Gustav Jung. Jung foi aluno de Freud e professor da Nise, na Suíça. Homens revolucionários, que abandonaram a ideia do corpo máquina e trabalharam com a abordagem centrada na subjetividade, na emoção, na identidade, na simbologia, nas narrativas que restauram as memórias. A nossa dificuldade hoje é não deixar o afeto se apagar, em um momento em que tudo virou máquina”, destacou Pordeus.
Estigma
Para o museólogo Eurípedes Júnior, vice-presidente da Sociedade Amigos do Museu de Imagens do Inconsciente, colaborar com a mostra foi um desdobramento natural do trabalho que ele desenvolve há anos com a equipe do museu. “O museu se empenha fortemente na luta pela redução do estigma e pela mudança de paradigma da sociedade em relação à loucura. As pinturas são apaixonantes porque revelam mais do que sabemos sobre os mistérios da mente humana. É uma alegria levar esses conteúdos ao grande público do CCBB”, disse.
De acordo com Diogo Rezende, estarão expostas mais de 100 obras, das quais 90 são oriundas do Museu de Imagens do Inconsciente. Dentre as obras contemporâneas, há trabalhos de fotografia, vídeoinstalação, escultura, além de reproduções históricas de arquivo. “A exposição tem esse aprofundamento na pesquisa da Nise. Ao longo desses três núcleos, a gente vai falando da Nise cientista e do olhar dela sobre vários assuntos”.
Há referência ainda a livros escritos pela psiquiatra, entre os quais o último, Cartas a Spinoza, que foi um filósofo contemporâneo do francês Descartes e que, ao contrário deste, pregava que a ciência se faz também com afeto e com amor e não só só com razão. “Isso cabia bem no método dela, que era o do afeto”, observou o curador.
A exposição Nise da Silveira – A Revolução pelo Afeto é patrocinada pelo Banco do Brasil, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Museu
Localizado no bairro do Engenho de Dentro, subúrbio carioca, o Museu de Imagens do Inconsciente foi criado por Nise em 1952, com o objetivo de reunir os trabalhos produzidos pelos seus pacientes nos estúdios de modelagem e pintura, revelando de forma profunda tudo o que se passava no universo interior deles.
O museu tem um acervo de 400 mil trabalhos variados, registrados como patrimônio. Desse total, foram escolhidas para a exposição telas de Carlos Pertuis, Fernando Diniz, Adelina Gomes, Emygdio de Barros e Arthur Amora. Entre os pacientes contemporâneos, está Albertina da Rocha.
Todas as medidas de segurança sanitária foram adotadas pelo CCBB para impedir o contágio pelo novo coronavírus (covid-19). Entre elas, entrada apenas com agendamento online; controle da quantidade de pessoas no prédio, equivalentes a um quinto do fluxo antes da pandemia; fluxo único de circulação; medição de temperatura; uso obrigatório de máscara; disponibilização de álcool gel; e sinalizadores no piso para o distanciamento.
(Agência Brasil)