Nos últimos anos, o acesso de estudantes negros e indígenas às instituições de ensino superior no Brasil foi grandemente ampliado, graças ao sistema de cotas. Este movimento foi crucial para a democratização da educação superior no país. Contudo, garantir o ingresso desses estudantes não é suficiente. É essencial que eles se sintam acolhidos de forma a prosperar academicamente e ter a oportunidade de buscar níveis mais avançados de formação. Um dos projetos que se destinou a investigar estas questões foi “Limites e possibilidades para o bem-viver de estudantes negros em instituições de ensino superior“.
Conduzido por Alessandro de Oliveira dos Santos na Universidade de São Paulo (USP), este estudo em diversos aspectos do dia a dia acadêmico de estudantes negros, incluindo desafios relacionados ao preconceito e discriminação, além do suporte social disponível. Tendo como foco o bem-estar subjetivo (BES), o projeto destacou que a média de bem-estar entre esses estudantes é frequentemente mais baixa do que a de seus pares não-negros, condição que só foi agravada pela pandemia de COVID-19.
O que é o bem-estar subjetivo?
O conceito de bem-estar subjetivo, central na pesquisa, refere-se a como as pessoas percebem sua qualidade de vida, abrangendo tanto aspectos emocionais quanto racionais. De acordo com Ed Diener e Katherine Ryan, ele engloba o nível de satisfação que uma pessoa sente com base em suas próprias avaliações de vida. Aspectos afetivos incluem emoções positivas e negativas, enquanto o aspecto cognitivo é a satisfação com a vida de forma geral. Este conceito tem sido amplamente utilizado para estudar a saúde mental e a qualidade de vida em contextos sociais e culturais diversos.
Quais os desafios enfrentados pelos estudantes negros na USP?
A pesquisa revelou que estudantes negros na USP enfrentam vários desafios, especialmente relacionados a experiências de preconceito e discriminação, que impactam negativamente sua saúde mental e bem-estar. A desigualdade étnico-racial é uma realidade persistente, agravada por situações de exclusão que tornam a adaptação acadêmica mais desafiadora. Além disso, a necessidade de utilizar regularmente auxílios de permanência e serviços de saúde mental demonstra as adversidades adicionais que precisam ser superadas para garantir a continuidade dos estudos.
A importância do suporte social e coletivos estudantis
O estudo de Santos identificou a importância crítica do suporte social, tanto da família quanto dos coletivos estudantis, para o bem-viver dos estudantes negros na universidade. Além de oferecerem suporte emocional e material, as famílias desempenham um papel vital no apoio afetivo, enquanto os coletivos fornecem um espaço de acolhimento e apoio mutual. Programas de permanência e de saúde mental universitários são também essenciais, oferecendo suporte financeiro e emocional que facilita não apenas a adaptação, mas também a permanência no curso universitário.
Como melhorar o ambiente acadêmico para estudantes negros?
Para criar um ambiente acadêmico mais inclusivo e saudável, o estudo sugere várias medidas. É fundamental enfrentar situações de preconceito e discriminação, incentivar o engajamento de professores em atividades que promovam a integração acadêmica de estudantes negros, apoiar coletivos estudantis, e criar financiamentos para suas atividades. Aumentar o auxílio financeiro para a permanência estudantil também é uma recomendação vital para garantir a continuidade dos estudos desses estudantes.
O projeto concluiu com uma série de iniciativas destinadas a ampliar a discussão sobre saúde mental e suporte social no ambiente acadêmico. Conferências, publicações e parcerias internacionais, como a realizada com a University of Texas, são exemplos de caminhos utilizados para difundir os resultados e sensibilizar a comunidade acadêmica sobre a importância de se criar um ambiente mais justo e acolhedor para todos os estudantes.
Leia também: Feriado Nacional nesta quarta-feira (20): Entenda mais sobre a importância dessa data