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O sucesso e as críticas do site OnlyFans

Com a pandemia, o número de contas passou de 60 mil para um milhão. Mas além do lucro em dólares, a rede está envolvida em críticas de objetificação e denúncia de material infantil

O sucesso e as críticas do site OnlyFans
(Crédito: Canva Fotos)

Durante a pandemia, várias plataformas digitais se expandiram rapidamente. A receita do Zoom aumentou 300% e a do TikTok alcançou US$ 34 bilhões. Mas não foram os únicos beneficiados. A eles juntou-se o OnlyFans, um espaço virtual que permite a venda de conteúdos “para adultos”. Graças a um modelo de negócios elogiado por uns e criticado por outros, tornou-se popular em todo o mundo. E a Argentina não é exceção.

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“Comecei no ano passado. Virou moda e percebi que era mais uma fonte de ingressos”, explica a PERFIL @Moli23.Moli, uma estudante de marketing de 23 anos que mora em Buenos Aires e prefere não dar seu nome verdadeiro. E acrescenta: “Se levar a sério, é possível viver exclusivamente disso”.

Diego Rivano (@diegoalexander_rd) tem 29 anos e é chileno. Atualmente, ele registra 15 mil curtidas em sua conta e cobra US$ 15 por mês pela assinatura. “Eu vi que muitas pessoas na Europa e nos Estados Unidos ganhavam dinheiro no OnlyFans enquanto eu estava estressado com meu trabalho de escritório e resolvi entrar”, disse ele a PERFIL.

“É super livre e sem restrições. Eu o uso como um pequeno estúdio pornô, mas cada um sobe o que quer, quando quer e define o preço que acha conveniente”.

Origens de OnlyFans

OnlyFans foi lançado por Tim Stokely em 2016 no Reino Unido. “É uma plataforma interessante porque permite monetizar conteúdo diretamente com os seguidores”, apontou a PERFIL Juan Marenco, CEO da Be Influencers, agência dedicada ao marketing digital.

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Qualquer pessoa pode subir conteúdo, e seus seguidores pagam para vê-lo. “No início, ensinavam-se habilidades como cozinhar ou tocar um instrumento. Isso foi mudando até chegar aos dias de hoje onde a maioria gera conteúdo erótico porque é mais lucrativo e é o que as pessoas procuram”, diz Rivano.

Segundo dados repassados pela plataforma, em 2019 eles contavam com 60 mil criadores de conteúdo. Durante a pandemia, esse número aumentou para 700.000 e atualmente ultrapassa um milhão. Nesse mesmo período, o número de assinantes passou de 7 milhões para 50 milhões. “98% dos consumidores são homens. Tanto para seguir mulheres quanto outros homens”, completa o criador chileno.

Preconceito e ilegalidade no OnlyFans

OnlyFans não escapa das críticas, algumas morais e outras legais. “Há muito preconceito. Meus amigos sabem e está tudo bem, mas eu tive problemas com minha mãe e meu pai nem sabe”, diz Moli23. Além disso, ele aponta que namorou pessoas que, quando souberam do seu trabalho, fizeram comentários contra ela. “Eles acham que por estar em OnlyFans eu saio com qualquer um, mas não é nada disso”. Algo semelhante aconteceu com Rivano. “O Chile é super conservador e os mais velhos ainda mais. Meus amigos me motivaram a começar, mas meus pais não gostam disso”, revela.

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Por sua vez, Marenco explica que as marcas também têm receio do OnlyFans. “Evitam porque parece um lugar arriscado, onde eles não têm controle do que acontece. Houve algumas experiências de promoções mais arriscadas, mas não é comum”.

Outra crítica é que seu modelo de negócios objetifica os criadores de conteúdo. “Para mim é um trabalho. Me divirto muito fazendo isso e descobri muitas coisas sobre mim que não sabia”, responde a essa opinião Moli23. Ela também ensina outras meninas como usar a plataforma por meio de vídeos no YouTube. “Elas me pediam conselhos e achei que seria uma boa maneira de ajudá-las”, acrescenta.

Em todo caso, as críticas não são apenas morais. Embora a plataforma afirme ter medidas de segurança para permitir apenas usuários maiores de idade, nas últimas semanas uma investigação foi aberta no Reino Unido porque foram descobertas fotos e vídeos de meninos e meninas menores de 18 anos.

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Dinheiro em OnlyFans

O sistema de monetização OnlyFans é simples. O criador sobe o conteúdo, define um preço mensal e quem paga pode acessar. A plataforma fica com 20% e o restante é encaminhado para uma conta declarada pela própria pessoa.

PERFIL conversou com diferentes criadores que pediram para permanecer anônimos para evitar problemas relacionados à sua renda. “O que mais vende são os vídeos. E quanto mais explícitos, melhor. Quem está começando e consegue um público fiel pode ganhar entre dois e dez mil dólares por mês”, diz uma delas.

OnlyFans indica que a renda média é de US$ 180 por mês. E que 1% das contas concentra 33% dos lucros. “Existem algumas contas bem conhecidas, com muitos seguidores, que ganham mais de US$ 50 mil por mês”, disse um criador do Uruguai a PERFIL. “E também há celebridades que não fazem upload de conteúdo erótico, mas das suas vidas privadas, que é o que os fãs querem saber”, continua.

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A atriz americana Bella Thorne foi uma das primeiras celebridades a se aventurar no OnlyFans e revelou que ganhou US$ 2 milhões com seu conteúdo. Por sua vez, o ator Michael B. Jordan disse em uma entrevista que criou uma conta para arrecadar fundos para as pessoas afetadas pela pandemia. E na Argentina a estrela do trap Cazzu também usa a plataforma e seu perfil tem 17 mil curtidas.

Um criador de conteúdo argentino explicou que o negócio se torna muito lucrativo no país. “O peso está desvalorizado e os criadores ganhamos em dólares”, diz ele. E finaliza: “Trazer o dinheiro para o país não é tão difícil. Dá para fazer por carteira virtual e várias transações, mas, em geral, é mandado para uma conta nos Estados Unidos e essa pessoa te dá os dólares em dinheiro aqui, menos uma taxa de 5%”.

Contas de menores de idade

Um dos maiores perigos do OnlyFans é a criação de contas com imagens de menores. “Usamos uma combinação de tecnologia com monitoramento e revisão humana para evitar que menores de 18 anos compartilhem conteúdo”, dizem representantes da plataforma.

No entanto, no Reino Unido, foram detectados nas últimas semanas casos de contas com material pertencente a adolescentes de 14 a 17 anos. “As crianças estão sendo exploradas com essa plataforma”, disse Simon Bailey, diretor nacional da proteção à criança da polícia daquele território. OnlyFans emitiu um comunicado indicando que são casos isolados e que trabalharão com as autoridades para evitá-los.

Enquanto isso acontecia, também foram iniciadas investigações nos Estados Unidos por casos semelhantes. O aliciamento ou assédio virtual de menores é um crime que aumentou consideravelmente durante a pandemia e as autoridades dos países acreditam que este tipo de plataforma pode agravar este problema.

*Por Agustín Jamele.

*Texto publicado originalmente no site Perfil Argentina.

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