Opinião

Por que os argentinos compraram mais ingressos do que os brasileiros para a Copa do Catar?

Que tudo seja mais caro não é problema; os argentinos compram menos, mas sua permanência resiste a qualquer lápis vermelho ocasional.

Por que os argentinos compraram mais ingressos do que os brasileiros para a Copa do Qatar?
Torcedores argentinos na Copa do Mundo (Crédito: Clive Mason/Getty Images)

A população do Brasil é quase cinco vezes maior que a da Argentina. A eterna crise da economia argentina foi até tema da campanha pela Presidência. Bolsonaro a usou para provocar medo. A equipe de Lula para prometer ajuda. Porém, no maior evento do planeta, os argentinos compraram mais ingressos que os brasileiros: 61.083 contra 39.546. Difícil de entender. Ou não. Ainda depois de décadas de crises, o PIB per capita argentino é maior que o brasileiro: US$ 8.115 contra US$ 6.816.

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Tristan Rodriguez Loredo, editor de economia da revista Noticias de Argentina, explica: Um dólar inatingível, voos mais caros globalmente e poucas alternativas levaram a crer que, desta vez, o hino argentino não seria cantado nas arquibancadas como na Rússia ou no Brasil, onde os argentinos varreram com os ingressos e fizeram sentir sua presença estrondosa.

Mas as estatísticas mostram que não: as passagens voaram e os pacotes da Copa também. Muitas empresas já confirmaram que o gancho do Catar funciona como um incentivo para sua força de vendas, principalmente em uma economia com quase quatro anos de crise. Também para fidelizar ou premiar bons clientes. Que tudo seja mais caro não é problema; os argentinos compram menos ingressos, mas sua permanência resiste a qualquer lápis vermelho ocasional.

Outra explicação para o fenômeno é o número de argentinos que, graças a crises recorrentes, optaram por viver fora do país nos últimos anos. Para eles, apoiar a Seleção Nacional ao vivo e participar de uma Fan Fest ao vivo é como tocar novamente no Obelisco. Além disso, tanto para eles quanto para os demais que saem de Buenos Aires, a economia é para essas grandes ocasiões: trocar de carro, reformar a casa e… viajar para uma Copa do Mundo.

Por fim, há a síndrome da abstinência: de 1993 a 2021, a Seleção havia disputado 5 finais sem vencê-las (quatro Copas Américas e uma Mundial), mas com o incentivo da maldição quebrada no Maracanã há um ano, foram renovadas as esperanças de que Messi, o outro gran 10 do futebol argentino tenha a chance de erguer a Copa naquela que provavelmente será sua última participação.

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Para o professor de Relações Internacionais Pedro Costa Junior, há uma resposta central: Se chama Leonel Messi. É o jogador mais extraordinário desde Diego Maradona e vai provavelmente jogar sua última Copa do Mundo. E se não é a ultima, é a ultima em alta performance. Essa é a grande esperança dos argentinos de saírem da fila, de saírem de um grande jejum. Messi está no panteão dos grandes jogadores. Para usar uma frase de Pep Guardiola, “ele vai se sentar na mesa de Pelé e Maradona”.

Depois que ele parar de jogar bola é que vamos ter dimensão do tamanho de Messi. É um gênio, um extraterrestre. Não é desse mundo, é de outro planeta. Então: primeiro, é a última Copa de Messi. Segundo, Argentina tem uma boa seleção, um bom time. São os atuais campeões da América. Não adiantaria ter Messi em um time totalmente desorganizado. Isso aumenta a esperança dos argentinos. E claro, foram os vice campeões do mundo no Brasil. Terceiro, o jejum.

Eles foram campeões do mundo em 1986. São décadas na fila. É como se os argentinos pensassem é tudo ou nada, agora ou nunca. Esse conjunto de motivos é fundamental para os argentinos se empolgarem nesse momento. E claro, a paixão, um componente intangível, que não pode ser medido.

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Seriam os argentinos mais apaixonados que os brasileiros por futebol? Acho que isso é uma provocação. Não dá para saber. Não há critérios para se medir isso. Mas a torcida argentina é muito empolgante. Esse conjunto de elementos pesa agora. É uma confluência, uma concordância de elementos muito forte. Temos o melhor jogador da história na sua última Copa, com uma grande seleção, entrosada e que já demonstrou seu valor, que é campeão. E uma longa fila. É agora ou nunca. Isso explica as motivações da Argentina. E o Brasil tem muita desconfiança. Sempre chega com certo favoritismo. É a única seleção pentacampeã mundial. É uma seleção boa, mas chega com algumas desconfianças. E o jejum não é tão longo. Então é uma série de fatores.

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