UNIFICAÇÃO DOS CÂMBIOS COMERCIAIS

Argentina: viajar pode ficar mais caro no Governo Milei

A Argentina tem hoje muitas limitações para a compra de dólares e convive com várias cotações diferentes

Viajar para a Argentina deve continuar sendo barato para os brasileiros. mas pode se tornar mais caro para os turistas nos próximos meses.
Apesar da subida da cotação oficial, o dólar ou real “blue”, que continua sendo vantajoso para turistas, não cresceu tanto – Crédito: Reprodução/Wikimedia Commons

Viajar para a Argentina pode ficar mais caro para os turistas nos próximos meses, com as medidas que o novo presidente Javier Milei está implementando para tentar baixar a inflação. Ainda assim, a Argentina deve continuar sendo um destino comparativamente barato para os brasileiros, reiteram economistas procurados pela Folha de São Paulo.

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Os especialistas ponderam que o dólar e os preços estão muito voláteis no país nesse momento. Então, ainda é difícil fazer a conta na ponta do lápis.

“Vir a Buenos Aires, Mendoza, ‘Brasiloche’, como chamamos Bariloche, vai seguir sendo barato para vocês brasileiros, mas não vai voltar a ser como foi nesse último inverno. O dólar ou o real vai valer o mesmo, enquanto os preços vão subir cerca de 25% por mês, nos próximos dois ou três meses”, resume Andrés Borenstein, professor de macroeconomia da Universidade Torcuato di Tella, em entrevista à Folha.

A Argentina tem hoje muitas limitações para a compra de dólares e convive com várias cotações diferentes, a depender do setor. São políticas usadas até aqui para tentar conter a fuga da moeda americana. A nação vive uma escassez histórica de reservas causada por altas dívidas externas contraídas ao longo de suas diversas crises.

Para entender por que a viagem pode ficar mais cara, é preciso conhecer dois desses câmbios: o dólar oficial, que é usado em transações comerciais, bancárias e financeiras de grande volume, e o dólar paralelo “blue”, que é o encontrado em espécie por turistas nas casas de câmbio paralelas e na Western Union, por exemplo. Ele não é controlado pelo governo, mas pela oferta e demanda.

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Até a última terça-feira (12), a diferença entre esses dois dólares era muito grande —o oficial estava custando 366 pesos, e o paralelo, mais de 1.000. O que Milei fez, na intenção de tornar a cotação oficial mais “real” e, mais para frente, unificar os câmbios, foi subir o dólar oficial a 800 pesos.

A repórter Júlia Barbon  da Folha lembra que isso significa que todos produtos e serviços vão ficar mais caros. Ela afirma que uma onda de remarcação de preços em supermercados, lojas e postos de gasolina começou, uma vez que, antes, os valores estavam represados e controlados por acordos de preço feitos pelo governo de Alberto Fernández.

Apesar da subida da cotação oficial, o dólar ou real “blue”, que continua sendo vantajoso para turistas, não cresceu tanto. Na última semana, mesmo com os anúncios econômicos do governo, esse dólar ficou em cerca dos 1.000 pesos, e o real, envolta dos 200 (apesar da alta volatilidade).

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“As pessoas e as instituições financeiras não saíram desesperadas para comprar dólar. Há uma certa credibilidade pelos ajustes fiscais que o governo promete fazer, mesmo que ninguém saiba se vai de fato funcionar”, explica Borenstein, que foi economista-chefe do BTG Pactual na Argentina de 2014 a 2020.

Viajar vai ficar mesmo mais caro

Em resumo, os preços estão subindo, enquanto o dólar e o real usados pelo turista estão se mantendo mais ou menos no mesmo patamar, o que encarecerá um pouco a viagem. Ainda assim, a diferença até agora não é tão grande a ponto de se precisar cancelar passeios ou evitar restaurantes, por exemplo.

“Esse aumento no câmbio oficial [determinado pelo governo Milei] afeta muito mais os argentinos do que os estrangeiros”, diz o economista Ignacio Galará, do Centro de Estudos Monetários e Financeiros de Madri.

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 * Sob supervisão de Lilian Coelho

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