ENTENDA

De restritiva a progressista: como a Irlanda do Norte reformou suas leis de aborto

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Início de uma gravidez – Créditos: depositphotos.com / Gajus-Images

Por décadas, as mulheres na Irlanda do Norte enfrentaram um dos ambientes legislativos mais restritivos do mundo ocidental em relação ao aborto. Enquanto a Inglaterra, Escócia e País de Gales descriminalizaram o procedimento em 1967, a Irlanda do Norte manteve rígidas restrições ao aborto, permitindo-o apenas em situações de risco para a vida da gestante. Essas restrições resultaram em um número ínfimo de abortos legalmente realizados, e as mulheres que desejavam abortar eram frequentemente obrigadas a viajar para fora do país.

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A persistência dessa legislação foi influenciada por fatores culturais e políticos únicos. A Irlanda do Norte, historicamente, tem uma relação complexa com o governo britânico e, durante o período conhecido como “The Troubles”, qualquer mudança potencialmente divisiva era evitada para não desestabilizar o frágil equilíbrio de paz. Somente em 2019, após intensa pressão internacional e mudanças na opinião pública local, a legislação restritiva foi revista.

Descriminalização do aborto na Irlanda do Norte

A mudança de postura do governo britânico em 2019 marcou o início de um novo capítulo para os direitos reprodutivos na Irlanda do Norte. A partir de então, o aborto foi legalizado até 12 semanas de gestação por qualquer razão, e até 24 semanas com justificativa médica aprovada por dois médicos. Exceções também foram previstas para casos de anomalias fetais severas, permitindo o procedimento mesmo após esse período.

Essa reforma foi vista como um avanço significativo, mas enfrentou desafios em sua implementação. Embora a descriminalização seja respaldada pela maioria da população, a transição para um sistema de saúde que possa atender todas as mulheres ainda está em andamento. O processo lento e burocrático para integrar plenamente os serviços de aborto na rede pública de saúde é um dos principais obstáculos enfrentados até agora.

Apesar dos avanços na legislação, muitos desafios ainda persistem. A implementação de serviços de aborto na rede pública tem sido gradual, e em algumas áreas, o procedimento ainda enfrenta obstáculos logísticos e de conscientização. A telemedicina, por exemplo, não está amplamente disponível na Irlanda do Norte como em outras partes do Reino Unido, limitando o acesso em regiões mais remotas.

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Outro obstáculo significativo é a objeção de consciência entre profissionais de saúde, que pode dificultar o acesso ao aborto seguro e legal. Além disso, grupos contrários ao aborto continuam a exercer pressão política e judicial para reverter ou dificultar a aplicação da nova lei, organizando manifestações e campanhas para manter o aborto como um tema de controvérsia pública.

O impacto da descriminalização na sociedade norte-irlandesa

A legalização do aborto na Irlanda do Norte representa mais do que uma mudança de política; sinaliza uma transformação cultural e social profunda. Desde a descriminalização, houve um aumento significativo no número de procedimentos realizados dentro do território, reduzindo drasticamente a necessidade de viagens a outros países.

Essa mudança também encorajou uma discussão mais aberta sobre direitos reprodutivos e a saúde das mulheres. Os debates anteriormente evitados agora ocupam um espaço central no discurso público e na mídia, promovendo uma conscientização maior sobre os direitos e opções disponíveis para as mulheres na Irlanda do Norte.

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