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Mais do que apenas um cruzador que afundou

Published 30/04/2022
Mais do que apenas um cruzador que afundou

(Crédito: Canva Fotos)

O domínio da Rússia sobre o Mar Negro parecia incontestável até agora, mas a perda do cruzador Moskva, que afundou, vai além do revés operacional na guerra da Ucrânia, pois teve um enorme valor simbólico.

A capitânia da marinha russa no Mar Negro, em operação desde o início dos anos 1980, afundou em poucas horas, levando consigo para o fundo uma parte do orgulho das forças armadas do presidente Vladimir Putin, severamente punidas desde o início da invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro.

Segundo Moscou, o cruzador sofreu um incêndio a bordo que fez com que a munição explodisse. Kiev, por sua vez, reivindica um ataque com mísseis, uma versão apoiada ontem pelo Pentágono.

Em ambos os casos, “é uma perda simbólica muito forte”, para o almirante francês aposentado Pascal Ausseur, diretor geral do centro de análise Fundação Mediterrâneo para Estudos Estratégicos (FMES).

Um navio como este deve ser capaz de permanecer em combate após um ou vários golpes e ser capaz de controlar um incêndio. “É um navio de 12.000 toneladas que afundou em 12 horas. Não é normal”, acrescenta Ausseur.

O Moskva de 186 metros de comprimento carregava 16 mísseis anti-navio Bazalt/Voulkan, mísseis Fort (a versão marítima do S-300 de longo alcance) e mísseis Osa de curto alcance. Bem como lançadores de foguetes, canhões e torpedos.

Proteção aérea. O navio poderia transportar até 680 soldados a bordo, de acordo com o Ministério da Defesa da Rússia, e “garantiu a proteção aérea do restante dos navios durante as operações”, disse o porta-voz da administração militar regional de Odessa, Sergei Bratchuk, no Telegram.

De acordo com especialistas ocidentais, sua perda no nível operacional é enorme, mas gerenciável para a Rússia. Com suas armas, protegeu totalmente um diâmetro de 150 quilômetros ao redor, explica Nick Brown, especialista do British Private Information Institute Janes. “Com a Turquia bloqueando os navios russos dos estreitos de Bósforo e Dardanelos, será difícil para a Rússia substituir sua capacidade de defesa aérea”, explica ele.

Mas “o resto da frota do Mar Negro ainda é uma força importante”, resume Brown, especialmente com as modernas fragatas do tipo Almirante Grigorovich, equipadas com defesas antiaéreas mais avançadas que as da Moskva, embora com um alcance mais curto, e com mísseis de ataque ao solo Kalibr.

Mas o revés de Moscou é considerável. Tendo desistido do controle do espaço aéreo ucraniano e exposto suas fraquezas táticas e estratégicas nas primeiras semanas da operação terrestre, agora é sua marinha que é afetada.

“Verdadeira vulnerabilidade.” O envolvimento da marinha russa na guerra foi bastante limitado”, diz Maia Otarashvili, do Foreign Policy Research Institute (FPRI), em Washington. Mas Moscou pode considerar o ataque se pretende “envolver mais diretamente a marinha no conflito”. Uma vez que, se for confirmado que o Moskva foi atacado com mísseis Neptune (possivelmente combinados com o uso de drones), como afirmam os ucranianos, surge a questão sobre o equipamento de armas da Ucrânia.

“A Ucrânia tem capacidades de defesa naval que Moscou não avaliou?”, pergunta Otarashvili, que lembra que o governo do presidente Volodimir Zelenski não parou de pedir mísseis costeiros para sua defesa. “Que tipo de mísseis anti-navio a Ucrânia conseguiu obter recentemente?”, acrescenta.

A Moskva foi ao fundo do Mar Negro com seu prestigioso currículo operacional, forjado na Geórgia em 2008 e na Síria entre 2015 e 2016. “Era o navio de comando, e provavelmente tinha a bordo o Estado-Maior da Marinha da área”, conclui Pascal Ausseur, bem como uma tripulação experiente que julgou essencial evacuar o navio.

Agora eles terão que designar outro navio para coordenar as operações no Mar Negro. “É um mar muito pequeno, tudo está ao alcance dos mísseis antinavio e sua detecção é muito simples”, acrescenta Ausseur. Portanto, a perda do Moskva “mostra uma vulnerabilidade real” da marinha russa.

*AFP

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Perfil Brasil.

*Texto publicado originalmente no site Perfil Argentina.

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