47 votos pela perda do mandato

Camilo Cristófaro é cassado na Câmara de SP; Entenda

Parlamentar é o 1º a ser cassado na capital paulista em 24 anos; O motivo é um áudio com frase tida como racista: “É coisa de preto”

Camilo-Cristófaro
O vereador cassado Camilo Cristófaro – Avante (Crédito: André Bueno/Rede Câmara)
A Câmara Municipal de São Paulo cassou o mandato do vereador Camilo Cristófaro (Avante). O motivo se deve por quebra de decoro parlamentar no episódio em que teve um áudio vazado no plenário da Casa usando uma frase tida como racista.

O episódio aconteceu em maio de 2022, na ocasião o vereador Cristófaro participava de uma sessão da CPI dos Aplicativos de forma remota, quando foi ouvido dizendo: “É coisa de preto”.

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Na sessão desta terça-feira (19) conduzida pelo presidente da Câmara, vereador Milton Leite (União), o mandato do parlamentar foi cassado pelo placar de 47 votos pela perda do mandato e 5 abstenções. Nenhum vereador votou “não”, ou seja, contra a cassação.

A Câmara é formada por 55 vereadores. Nem Cristófaro nem a vereadora Luana Alves (PSOL), que representa a acusação, votaram no julgamento. Uma vereadora, Ely Teruel (Podemos), não compareceu.

Relatoria

O vereador Marlon Luz (MDB) foi o relator do caso e deu parecer favorável à cassação do mandato do parlamentar à Corregedoria da Câmara Municipal de São Paulo por avaliar que houve quebra de decoro.

Durante a fala da acusação, Luana afirmou: “Eu, que estava presente [à sessão em que o áudio vazou], nunca vou esquecer da expressão de todos os presentes naquela sessão que se sentiram violentados pela fala. Foi um desrespeito profundo a todos os que estavam presentes e a toda a população negra de São Paulo”.

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“O quê que ‘coisa de preto’ significa? É uma ‘piada’ que trabalha com elemento narrativo de estereótipo que as pessoas negras fazem coisas erradas. Que as pessoas negras fazem coisas malfeitas. Que as pessoas negras não seriam competentes para ocupar um lugar de intelectualidade, de poder. Quando você diz que ‘coisa de preto’ é uma coisa malfeita, você diz que os brancos fazem melhor que os pretos. Isso é um elemento ideológico do racismo que segue operando na sociedade brasileira. Dizer para o povo que não há problema em falar uma frase racista, é dizer para o povo que as pessoas negras podem ser desrespeitadas”, afirmou.

O vereador Camilo Cristófaro dividiu o tempo de defesa com o advogado. Ele acusou manifestantes de terem sido pagos para acompanhar a sessão e Luana de fazer política por “luz, câmera, ação”, para aparecer na TV.

Camilo eu sei que você não é racista, mas você é rico, tem como pagar advogado”, disse Cristófaro.

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O advogado de defesa Ronaldo Andrade usou o tempo para afirmar:

“Que haja julgamento, que haja Justiça. Um negro que está defendendo o branco. Eu sei que não houve preconceito. Houve uma fala mal colocada, de mau gosto. Porque é uma fala infeliz, mas daí a transformar isso em preconceito, pior do que preconceito, racismo… (…) Eu estou com o Djonga: ‘Fogo nos racistas’. Eu sou contra o racismo, mas racismo. Não tirar do contexto uma frase mal colocada e taxar isso de racismo. Não é brincadeira que se faça, só que ele fez com um amigo dele”.

Protestos

Antes do início do julgamento, houve registro de diversos protestos nos arredores da sede da Câmara pela cassação do vereador.

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Nas calçadas, diversas pessoas se espalhavam com bandeiras com frases contra o racismo como “coisa de preto é cassar racista”. Muitos deles vestiam camisetas brancas com frases como “pela cassação do vereador racista Camilo Cristófaro” e “diga não ao racismo”.

Com o início da sessão, parte dos manifestantes entrou no plenário para acompanhar o julgamento. De um lado das galerias, cerca de 85 pessoas que defendem a cassação. Do outro, cerca de 40 apoiam o Cristófaro. Entre os dois, foram posicionados policiais, para evitar possíveis confusões.

Histórico

Cristófaro é o primeiro vereador cassado na Câmara Municipal em 24 anos. Desde 1999, época do escândalo que ficou conhecido como Máfia dos Fiscais, o Legislativo paulistano não tem um vereador cassado.

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Naquele ano, os vereadores Vicente Viscome e Maeli Vergniano foram acusados de cobrar propina de ambulantes e comerciantes nas antigas administrações regionais (as atuais subprefeituras) e perderam seus mandatos.

Suplente

Quem ingressa no lugar de Cristófaro é o vereador suplente Adriano Santos (PSB), partido pelo qual o hoje vereador do Avante foi eleito, mas foi desfiliado compulsoriamente após a fala vazada em plenário.

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O vereador suplente Adriano Santos (PSB). (Crédito: Afonso Braga/Rede Câmara)

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