REGIME MILITAR

Clarice Herzog, viúva de jornalista assassinado durante ditadura, é considerada anistiada política

A decisão admite que o Estado brasileiro perseguiu, por 13 anos, Clarice e sua família

A decisão admite que o Estado brasileiro, durante a ditadura militar, perseguiu por 13 anos Clarice e sua família.
Clarice Herzog – Créditos: Reprodução/ Youtube

Na Câmara dos Deputados, a Comissão de Anistia reconheceu nesta quarta-feira (03) a condição de anistiada política a Clarice Herzog, viúva do jornalista Vladimir Herzog. Ele foi vítima do regime militar, que o torturou e o matou em 1975.

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A decisão foi tomada através de votação unânime e admite que o Estado brasileiro, durante a ditadura militar, perseguiu por 13 anos Clarice e sua família, devido aos esforços desempenhados por ela para esclarecer o assassinato de seu marido.

Além do reconhecimento, a votação também dá o direito de Clarice ter uma reparação econômica, com teto de R$ 100 mil. Esta quantia deverá ser paga pelo Ministério do Planejamento, em até 60 dias depois da publicação da portaria no Diário Oficial da União que reconhece a decisão. Esta compensação corresponde ao período de 25 de outubro de 1975 (data da morte de Vladimir Herzog) e 5 de outubro de 1988.

Eneá Almeida, presidente da Comissão, afirmou que julgamento é emblemático para a história brasileira. “É um julgamento emblemático porque a história da Clarice Herzog é uma história emblemática. Nós estamos simultaneamente fazendo dois registros com este julgamento. O primeiro é uma homenagem às mulheres. As mulheres que deram o pontapé inicial em todo movimento, toda luta, pela anistia política lá em 65, no Brasil”, disse.

Além disso, ela finalizou a sessão pedindo desculpas, em nome do Estado brasileiro, a Clarice. “Em nome do Estado brasileiro, eu peço desculpas por toda perseguição que ela sofreu, extensivo à família inteira, por todas as agruras, todos os sofrimentos que vocês passaram de maneira absolutamente cruel, bárbara. Nenhum Estado tem direito de abusar do seu poder e investir contra os próprios cidadãos. Em nome do Estado brasileiro, peço perdão por todas essas perseguições que ela passou. Nossas homenagens à Clarice Herzog. A história da Clarice Herzog fica, a partir de agora, registrada nos anais da Comissão de Anistia, na memória do povo brasileiro, reforçada com as homenagens e a certeza de que ela é uma heroína do povo brasileiro.”

A luta de Clarice

A luta de Clarice começou em outubro de 1975, quando exigiu explicações e investigações mais profundas da morte de seu marido. Herzog era diretor de jornalismo da TV Cultura quando foi convocado pelo Exército para prestar depoimento sobre as ligações com o PCB, que era contrário ao regime militar. Depois de entrar, voluntariamente, ao prédio Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), nunca mais foi visto.

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Por fim, a versão contada pelos militares foi que o jornalista se enforcou com um cinto dentro da cela. Logo, isso se provou ser mentira. Ele foi torturado e assassinado por membros do Exército.

Só em 2013, no entanto, a Justiça de São Paulo emitiu um novo atestado de óbito para a família de Herzog, substituindo a causa da morte dada pelos militares, “asfixia mecânica por enforcamento“, por “lesões e maus-tratos sofridos durante o interrogatório em dependência do 2º Exército (Doi-Codi)”. 

 * Sob supervisão de Lilian Coelho

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