Após quase um mês do anúncio do pacote de controle de gastos e da proposta de mudanças no Imposto de Renda (IR), integrantes do governo avaliam que houve erros na comunicação das medidas. A percepção no Palácio do Planalto e na equipe econômica é de que ajustes são necessários para contornar os impactos negativos.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconheceu na sexta-feira (20) que a apresentação inadequada contribuiu para a alta do dólar e a reação desfavorável do mercado. As declarações ocorreram durante um café com jornalistas, em que Haddad também destacou a necessidade de repensar a abordagem em anúncios futuros.
Anunciado no dia 27 de novembro, o pacote incluía cortes de gastos e a proposta de isentar do IR quem ganha até R$ 5 mil mensais a partir de 2026. O Congresso aprovou as medidas fiscais, mas o projeto sobre a reforma do IR ainda não foi enviado.
O pacote de gastos pode reverter a crise com o mercado?
Para tentar reduzir tensões, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mudou o tom sobre o Banco Central (BC). A decisão faz parte de um esforço para evitar embates com o mercado e reforçar a estabilidade fiscal.
Nos próximos anos, o BC será comandado por Gabriel Galípolo, ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda e figura de confiança tanto de Lula quanto de Haddad. Na sexta-feira, Lula divulgou um vídeo acompanhado por Galípolo, Haddad e pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, em que reforçou o compromisso com a autonomia do BC e com o controle das contas públicas.
O vídeo foi produzido pelo publicitário Sidônio Palmeira, cotado para assumir a Secretaria de Comunicação Social (Secom). A ideia de gravar a mensagem partiu do presidente, mas Galípolo o convenceu da importância de enviar um sinal conciliador ao mercado.
Divisões internas e tropeços na comunicação
Nos bastidores, divergências marcaram a discussão do pacote. Enquanto a equipe econômica, liderada por Haddad e Tebet, preferia focar exclusivamente nas medidas de contenção de gastos, setores do Planalto e ministros da área social insistiram em um anúncio conjunto com a reforma do IR, temendo críticas às medidas de austeridade.
Sidônio teve papel central na decisão final e participou diretamente do pronunciamento de Haddad. Apesar disso, a estratégia gerou resultados contraditórios: enquanto militantes petistas comemoraram nas redes sociais, a reação do mercado foi dura, com a cotação do dólar subindo para R$ 6,30 após o anúncio.
As redes sociais inicialmente registraram apoio às medidas, mas a alta do dólar e as críticas gerais reverteram o sentimento positivo em pouco tempo. Campanhas planejadas pela Secom para divulgar os benefícios da isenção do IR foram barradas pela Fazenda, que avaliou que a divulgação poderia agravar o cenário.
Além disso, uma campanha publicitária para reforçar a importância das medidas foi engavetada após alertas de órgãos de controle, que consideraram incoerente usar verba pública para promover um pacote de contenção de despesas.
Dentro do governo, auxiliares avaliam que a gestão da comunicação resultou em uma derrota dupla: a perda de apoio do mercado e a dificuldade de colher ganhos políticos com a proposta de isenção do IR.
É o Brasil justo, com menos imposto e mais dinheiro no bolso para investir no seu pequeno negócio, impulsionar o comércio no seu bairro e ajudar a sua cidade a crescer. A nova medida não trará impacto fiscal, ou seja, não aumentará os gastos do governo. Porque quem tem renda…
— Fernando Haddad (@Haddad_Fernando) November 27, 2024
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