Óculos inteligentes para pessoas com a visão comprometida, bancos de dados de candidatos neurodivergentes e diversidade nas deficiências. Estes foram alguns dos assuntos abordados no Seminário de Inclusão em empresas, primeiro evento de sua natureza organizado pelo LIDE.
O evento aconteceu nesta terça-feira (30), durante uma manhã chuvosa. Mas o tempo não impediu que dezenas de pessoas se reunissem para debater, de forma prática, maneiras para abrir portas e gerar oportunidades de mercado a pessoas com deficiências físicas, intelectuais e psicossociais.
A abertura e mediação ficou nas mãos de Célia Leão, presidente do LIDE Inclusão e Secretária dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de SP de 2019 a 2022. Quando falou sobre o fato de evento ter saído do papel, resumiu o sentimento dos presentes: “me dá certeza que o mundo está mudando para melhor”.
Apenas uma característica
Vivian Broge é vice-presidente do Grupo TOTVS e mãe de um filho com uma síndrome rara. A executiva falou sobre sua vivência pessoal e profissional, enfatizando a neutralidade diante de deficiências.
“É apenas uma característica”, resume. Ela, que ouviu que seu filho não andaria e não falaria, se esforçou para que ele se tornasse uma pessoa feliz. “Olhando meu filho todos os dias, eu acredito que estamos sendo bem-sucedidos nessa missão. Hoje, ele está na escola paraolímpica do Centro Paralímpico Brasileiro sonhando em ser um nadador pelo Brasil”.
Para além de mãe e gestora C-Level, Broge reconhece seu papel na inclusão. “Eu acredito que eu tenho responsabilidade sobre esse tema. Trabalhar pela equidade e inclusão é a coisa certa a se fazer“.
“Teste do pescoço”
Quando se trata de explicações, Marinalva Cruz, diretora de diversidade e inclusão da Coca-Cola Femsa, foi pragmática. Sua sugestão para avaliar a inclusão dentro de um espaço de trabalho foi o ‘teste do pescoço’.
“Será que a mesma representatividade que eu tenho na sociedade está representada dentro da minha empresa? Tem mais de 50% da população composta por mulheres? Mais de 55% da população composta por pessoas negras? Se não tiver refletindo essa diversidade, algo não está certo. O mesmo vale para pessoas com deficiência”.
De acordo com a executiva, 18,9 milhões de brasileiros tem algum algum tipo de deficiência. Porém, um número muito inferior a 500 mil está, de fato, treinado formalmente. No estado de São Paulo, por exemplo, que tem condições de empregar mais de 400 mil pessoas com deficiência, somente 189 mil tem uma ocupação. “Precisamos trocar a culpa por responsabilidade. Não é só cumprir cota”, alerta.
Inclusão para todos
“Nenhum cérebro é igual ao outro”. Carolina Videira, mestre em neurociências e Membro do Conselho de Direitos Humanos da ONU-Brasil, desmistificou a crença de que algumas pessoas simplesmente não têm capacidade de aprender.
Carolina foi mãe do João, criança com múltiplas deficiências que faleceu aos três anos de idade. “Me orientaram que eu não precisava investir naquela criança. Para uma neurocientista, falar que uma pessoa não é capaz de aprender, é pedir para ela rasgar seu diploma. Todo cérebro aprende. Nós só precisamos de oportunidade”.
A palestrante citou uma pesquisa realizada recentemente nos EUA pela Universidade de St. Louis,que aponta para a presença de uma pessoa neurodivergente a cada cinco indivíduos no mercado de trabalho. No Brasil, diz ela, não seria diferente. “Nem 50% das pessoas neurodivergentes tem conhecimento da sua condição”.
O evento também contou com as participações de: Lars Gael, medalhista olímpico (1988 e 1996) e presidente do LIDE Esportes; Luciana Viegas, diretora do Instituto Vidas Negras com Deficiência Importam; Cid Torquato, CEO da ICOM-Libras e Secretário Municipal da Pessoa com Deficiência (2017-2021); Pedro Pimenta, membro do LIDE Inclusão e CEO da Vinci Clinic Prosthetics; Doron Sadka, CEO da Mais Autonomia-Tecnologia Assistiva; Thierry Marcondes, fundador da Empatia do Silêncio e consultor de negócios de impacto da Accenture; Viviane Dallasta, defensora pública federal e escritora; Jennifer Montoya, gerente de serviços e recursos gerais do projeto Linha 6-Laranja do Metrô; e Rafael Tello, diretor de sustentabilidade da Ambipar.
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